Amôr à terra (1º de outubro de 1946)

Ainda podemos encarar este Brasil com otimismo, em quase todos os seus pontos de vista naturais.

É bom demais, e é pena, que alguns nativos desnaturados ou alguns estrangeiros mal agradecidos ou menos reconhecidos, queiram levá-lo ao jugo autoritário de doutrinas exóticas, apunhalando-o pelas costas, traiçoeira e covardemente.

Verdade, é que temos as nossas falhas, que jamais fugimos em reconhecê-las. Pelo contrário, temos o desprezível hábito de desvalorizar e desmoralizar o que é nosso próprio, mesmo o que ainda possue algum valor e algum moral.

E a arma que empunha essa classe de indivíduos, para lutar conôsco mesmo e com o Brasil, é a difamação, a calúnia, o anonimato e outras do mesmo ról.

Mas, nossos atrazos na modernização do século, tem suas justificativas, e, qualquer pessôa de bom senso não se esvairá em aceitar ou reconhecer.

Em primeiro lugar, nossa terra foi descoberta, explorada, abandonada por mais de meio século, onde se transformou num covil de ladrões e aventureiros. Depois, muito tempo continuou-se a explorar êste sólo, rudimentarmente, sem pressa alguma. O Brasil tornou-se terra de exílio, de aventuras, de explorações.

O Brasil é demasiado grande territorialmente, e os homens que lutaram por êle nas fáses iniciais, foram poucos e o fizeram sósinhos.

O brasileiro é o típo do “deixa como está para ver como fica”, inegavelmente. Portanto, não se teçam comparações com êste ou aquele país, quanto ao desenvolvimento. A culpa é nossa, que somos um povo inculto, uma população quase integralmente analfabeta. Porisso mesmo, u’a mentalidade incapaz de traduzir para nós próprios, as nossas necessidades prementes, o papel do nosso próprio futuro. É uma espécie de preguiça mental, que só agora ameaça a ser interpretada e excluida, para que possamos integrar a mesma marcha do mundo contemporâneo.

Esperamos e confiamos muito nos estranhos e experimentámos uma série de contratempos, que poderiam ser evitados, se nós próprios houvessemos nos preocupado um pouco mais, com “estas terras que têm dono”.

Um século atraz, o número dos brasileiros, excluindo os indígenas, éra ínfimo. Ínfimo e ignorante. Os estrangeiros vieram para se enriquecer e não para levantar o nível do Brasil, que descoberto apenas oito anos à América, já se encontrava numa fáse de atrazo, proporcionalmente e idêntica à que hoje nos diverge dos Estados Unidos!

Fomos um povo pobre e miserável da luz do saber. Agora principiamos a compreender realmente, o que é o amôr à terra.

Compreendendo isso, de que nossa pátria reenceta o verdadeiro caminho de seu porvir, esses elementos traidores, tentam os últimos recursos, procurando convencer os que ainda não concluiram a mesma razão de que de fato “ésta terra têm dono”.

Mas agora é tarde. Os que sonharam azoinadamente, entregar estas plagas à outros povos e outros costumes estão vendo e assistindo, telepaticamente, o desmoronamento desses castelos e o andamento do próprio funeral dessas ilusões.

Este Brasil sempre há de ser brasileiro!

Extraído da primeira página do Correio de Marília de 1º de outubro de 1946, quando José Arnaldo ainda assinava José Padilla Bravos, seu nome de batismo.

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