A capacidade de criticar (27 de janeiro de 1956)

Capacidade de criticar não é qualquer que possui. Um indivíduo, para criticar determinada ação, precisa, antes de mais nada, saber onde tem o nariz. Precisa também ser sensato, objetivo e ter conhecimento de causa.

Não se pode admitir um crítico de cinema, rádio, futebol ou coisa que o valha, que não conheça à altura a matéria a ser criticada.

O “ouvi falar” ou “disseram” não fica bem para nenhum crítico, principalmente para os gratuitos e incompetentes, embora tenham capacidade para outros misteres.

Essa coluna tem um crítico ferrenho – doentio mesmo. O homem pega o jornal e devora o que escrevemos. Depois começa a “analisar” os nossos erros. Todos êles: de ortografia, de lógica, de perfeição, de oportunidade, etc..

Nunca êsse indivíduo, que é um boçal perfeito (trajado de “gentleman”), encontrou um único artigo nosso, que estivesse a contento. Jamais um assunto por nós abordado, mereceu a sua aprovação. O homem é positivamente “do contra”, com respeito aos nossos escritos diários. “Mete o pau” em tudo o que escrevemos. Sem dó nem piedade. Mas lê os nossos artigos. Isso é infalível.

É verdade que nossos artiguetes não são nenhuma preciosidade, nenhuma obra literária. Por repetidas vezes, temos confessados que jamais freqüentamos uma escola de jornalismo e por isso não podemos exibir, ali pela Avenida, um pergaminho debaixo do braço. Aquilo que escrevemos é fruto de duas coisas: “tarimba” e desejo de ser útil a Marília. A remuneração que percebemos pelos nossos trabalhos de redação não é das melhores, pois todos sabem perfeitamente que a imprensa do interior não tem possibilidades de compensar regiamente seus trabalhadores.

O rapaz, que se diz inteligente mas que não passa de um burro, não se conforma, de forma alguma, com o nosso modo singelo de escrever. Com mania de grandeza e tendo a cultura de lombadas de livros, não vê valor nos escritos em linguagem simples, popular.

E só por isso, vive por aí, a “gozar” os nossos trabalhos. A censurar a sua simplicidade, a menosprezar publicamente os nossos escritos de “menino de grupo escolar”. No entanto, êsse indivíduo, que tem pais ricos e que nunca soube o que é suar para ganhar o pão, que esquentou bancos escolares durante muito tempo, que residiu em São Paulo e no Rio de Janeiro, num “dolce far niente”, porque o pai lhe proporciona gorda mesada, que deve ter “colado” nas escolas para obter o diploma que possui, apesar de saber um “vocabulário decorado de palavras difíceis” não se atreveria a aceitar um desafio com o modesto autor destas linhas, o “homem que comete vinte erros em dez palavras”.

Os demais leitores não têm nada com isso e poderão achar que o assunto de hoje é ficticio ou imaginado. Mas é que êsse indivíduo está já aborrecendo com suas “críticas”. E o pior, é que o faz pelas nossas costas, como um covarde que é. Como temos a certeza de que êste artigo será lido, apesar de que o mesmo afirma “que não perde tempo em ler o que escrevemos”, aqui fica o aviso: cuide de sua vida. Se o que escrevemos não lhe agrada, não leia o que escrevemos. Se nosso jornal não lhe serve, por que o assina?

Mais esta: Se não sabia, fique sabendo: é difícil escrever fácil.

Extraído do Correio de Marília de 27 de janeiro de 1956

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