Começou mal o bissexto (6 de janeiro de 1956)

Não há (como) negar que o ano bissexto “entrou” mal. Pelo menos para os póbres, para os menos afortunados, aqueles que mal percebem, pelos seus trabalhos, o salário mínimo.

Elevação do adicional vigente, aumento do custo de utensílios imprescindíveis, como roupas, calçados e medicamentos, a “subida” dos cigarros, fósforos e inúmeras “cositas más”.

O paulistano recebeu, tambem, como “presente”, novo aumento nas tarifas de sua condução. A manteiga deu o seu “saltinho”. Até os cinemas da Capital estão entabolando providências para esfolar ainda mais o público, com novos aumentos de preços. Até o preço das entradas para o Pacaembú, por ocasião do “clássico” que será realizado no domingo, entre os quadros do São Paulo F. C. e do Palmeiras, será aumentado!

Se não fomos mal informados, parece que as ferrovias tambem vão aumentar os preços de suas tarifas de transportes! Até os sorvetes subiram! Já se paga cinco cruzeiros por um refresco em Marília. Um de nossos companheiros de redação levou um bruto choque, quando, anteôntem, ao pagar um sanduíche e um guaraná, num bar da cidade, ficou sabendo o preço do estrago: Cr.$ 18,00! E não pensem os leitores que se tratava de um sanduíche especial, de tamanho descomunal. Não. Um sanduichezinho corriqueiro, de pão, presunto e queijo...

Um servente de pedreiro, que reside num casebre afastado do centro, pensou em comprar uma bicicleta para vir de sua casa ao local do serviço. Quando perguntou ao balconista, o preço do veículo, ficou fulo, xingou de “ladrão” e não sabemos mais o que. O homem ficou nervosíssimo, quando lhe deram o preço do objeto: Cr.$ 5.600,00 à vista! E a bicicleta sem equipamentos, “lisa”. Acima de tudo, mal acabada, porque é de fabricação nacional, e, regra geral, a imperfeição impera quase em todos os produtos industrializados no Brasil! Lamentavelmente.

É a prova de que a ganância aumentou, fantasticamente, nêste início de ano.

Um guarda civil, contava ôntem ao repórter: Desejando adquirir um aparelho de rádio, indagara o preço numa casa especializada: Cr.$ 6.000,00. “Déra a bronca”, como é natural. Dirigiu-se a outro estabelecimento e o mesmo rádio, da mesma marca, com o mesmo número de válvulas, com mesma caixa e do mesmo tipo de fabricação custou 4 mil cruzeiros (“e já custou muito” – asseverou nosso amigo).

Não há dúvida: o ano bissexto começou mal mesmo...

Extraído do Correio de Marília de 6 de janeiro de 1956

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