O carnaval que se aproxima (24 de janeiro de 1956)

Vem aí o carnaval. Festa do povo por excelência. Quase todos participam, de um ou outro modo, das folias momescas. Mesmo aquêles que não “entram em cordões”, que “não se esbaldam” e “não se acabam” em bailes carnavalescos, gostam sempre de sair às ruas, para apreciar o movimento louco de muita gente que comete verdadeiras loucuras nesses dias.

Pensando bem, o povo tem mesmo que se divertir. Principalmente o povo brasileiro, que vive num “batente” tremendo durante o ano todo. A expansão é natural e não pode ser censurada. O que se condena nos praticantes das folias carnavalescas, são os excessos que por vezes se verificam, em diversos pontos, mal justificados como “brincadeiras” de carnaval.

Nós, em absoluto, somos contra o carnaval. Achamos ser de justiça a brincadeira que é tradicional no Brasil. Mas um divertimento sincero, sem malícias. Sim, pois hoje em dia, a maioria dos foliões encara as brincadeiras carnavalescas como motivo de vazão a atitudes exageradas e por vezes imorais. Lembramos que no carnaval do ano passado, em pleno dia, ali nas proximidades do Posto 7, triângulo das Ruas 4 de Abril, Coronel Galdino e Sampaio Vidal, um casal de foliões cometia atos verdadeiramente imorais. O que os dois praticavam não pode ser dito através de um órgão de imprensa, tal a enormidade da libertinagem que encerra. Na ocasião, comentamos até o fato e dissemos que tendo um cidadão chamado a atenção do atrevido casalzinho, em termos, ouviu, estarrecido a resposta de que “hoje é carnaval, moço”! E a mocinha, mais desavergonhada, usou de um vocabulário de intempéries e algumas obscenidades para com o correto cavalheiro, que tentara chamar-lhe a atenção.

Realmente, não encontram justificativas, os excessos que muitas vezes se executam, sob o pretexto de que “hoje é carnaval”. Na ocasião em que registrávamos o fato que hoje rememoramos, tecíamos uma consideração que não deixa de ser dolorosa: o que pensariam os pais da mocinha protagonista do caso em tela, se soubessem dos atos que a mesmo praticava (certamente sob efeitos de álcool), em plena via pública?

O caso foi relembrado, de propósito. Talvez a pessoa, por mero acaso, possa ler essa crônica. Oxalá isso aconteça e tomara que a mesma, juntamente com seu atrevido companheiro, possa agora, após transcorrido um ano, perceber a gravidade e a indecência de seus atos.

Por outro lado, que sirva também de alerta aos que usam e abusam de liberdades inenarráveis, pretextando “brincadeiras” de carnaval. Sim, pois se as brincadeiras carnavalescas se enquadrarem no fato que estamos referindo, pode-se dizer que o mundo está irremediavelmente perdido...

Extraído do Correio de Marília de 24 de janeiro de 1956

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