Produção e transporte (12 de janeiro de 1956)

Dois problemas de suma importância para o futuro do Brasil, são, inegavelmente, as causas da produção e transporte. Duas questões, que, dentre outras, devem merecer cuidados especiais do Sr. Juscelino Kubitschek, Presidente eleito em 3 de outubro pretérito (1955).

Há tempo, propugna-se no Brasil, a luta cerrada pela lavoura mecanizada, a fim de colocar o nosso país no seu devido lugar, com referência ao campo produtor, de vez que são imensas as áreas cultiváveis e de excelente qualidades as nossas terras. Tudo o que se planta, no Brasil dá. O clima favorece a cultura dos mais variados cereais, e, se uma política bem orientada existisse a respeito, por certo o Brasil seria um grande exportador, ao invés de ser um importador respeitável.

O amparo ao lavrador rural têm sido, desde o limiar da República, deficientissimo. Jamais teve o nosso caboclo, garantia de preços mínimos, fornecimento satisfatório de sementes e inseticidas, financiamento agrícola. Nunca teve facilidades para mecanizar a lavoura. Um cerco de dificuldades depara o lavrador, todas as vezes que precisa recorrer à órgãos bancários para realizar um penhor agrícola, ocasiões em que fica no dever de fornecer as mais sólidas garantias sem ter o direito de fazer a mínima exigência. A situação é dançar conforme a música, queira ou não.

Em consequência déssa situação, cada vez mais aumenta o êxodo rural, cada dia maior se tornam as áreas abandonadas e incultas e sempre mais difícil fica a vida na cidade, com o aumento das populações das zonas rurais e interioranas, acudindo para os grandes centros.

Estando os preços dos produtos agrícolas tão elevados como estão, é de se pensar que ser agricultor é hoje um ótimo negócio. No entanto, a realidade é bem outra: o lavrador vende tudo o que produz por preço miserável, porque o intermediário ganancioso o assedia e tira proveito de sua situação de dificuldades, só Deus sabendo como o mesmo conseguiu chegar até o termino das colheitas. Reduzidíssima a produção, porque já pouca gente (mesmo o simplório caboclo), se interessa pela agricultura, que vende quase de graça para depois adquiri-la por preços astronômicos. A mecanização continua sendo um (sonho) muito (distante) para o lavrador. Os preços de trataores, estratosféricos, o custo do combustível elevadíssimo e as inúmeras faltas de garantias, não compensam ao produtor a sua árdua luta, para ver-se obrigado a vender seus produtos por baixos preços, aos insaciáveis intermediários, ficando prisioneiros inafiançável do atual ritmo das coisas e impossibilitado de sair dessas contingências. Por outro lado, a deficiência dos serviços de transportes, obriga o agricultor a isolar-se das possibilidades de procurar mercado mais compensador para seus produtos.

Só o problema de transporte, portanto, não resolverá a solução da produção agrícola. Urge, antes de tudo, uma conjugação de trabalhos governamentais que traduza, étnicamente, o triângulo necessário a salvar a produção agrícola do Brasil: transporte, mecanização e eliminação do intermediário indesejável.

Extraído do Correio de Marília de 12 de janeiro de 1956

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