Um “Teto” que é uma Teta (18 de janeiro de 1956)

Certa classe funcional de arrecadadores fiscais, fizeram pressão há pouco, contra a pessoa do Diretor das Rendas Internas do Ministério da Fazenda. Por um motivozinho à toa! Pleiteiam os ditos funcionários, um “teto” de 70 a 100 mil cruzeiros mensais e o aludido diretor, ofereceu-lhes, na ocasião, “penas” “excuzes du peu”, 40 contos de réis!

Enquanto isso, o salário mínimo do Brasil continua a ser, como sempre, “salário de fome”. A desabalada carreira do aumento do custo de vida, os descontroles que se verificam intermitentemente em vários setores de nossa vida econômica, o fenômeno das investidas dos intermediários gananciosos e muitas coisas mais, continuam fazendo da maioria do povo brasileiro, o miserável eterno, o malabarista inconfundível, que só vive de teimoso. Sendo um mil e poucos a dois mil e tantos cruzeiros o nível de salário mínimo no Brasil, para a classe que constrói a grandeza da nação, a enormidade dêsse absurdo não pode ser medida com sensatez.

A respeito, citemos, como curiosidade e reforço para êste nosso comentário, a situação em resumo, da nossa condição político-financeira:

“No último dia de 55 publicaram os jornais um resumo da situação econômico-financeira do Brasil. Mereceu atenção especial, posto que resumida, a ação dos três ministros da Fazenda que ocuparam a pasta após o desaparecimento do sr. Getulio Vargas. Foram os srs. Eugênio Gudin, José Maria Whitaker e Mário Câmara, êste ainda no exercício do cargo.

“A respeito do sr. Eugênio Gudin foi dito que, embora não tivesse conseguido dominar, nem conter, o surto inflacionário, tratou pelo menos, de reduzir as despesas com a administração pública. O vulto de tais despesas causou impressão também ao sr. José Maria Whitaker. Não se esqueceu o país das referências que elas inspiraram ao titular paulista, em carta ao sr. Aliomar Baleeiro, a propósito do projeto (malogrado projeto!) de reforma cambial. “Se tudo o que pretendo realizar no prazo de que disponho, para saneamento das nossas finanças – dizia, desconsoladamente, o ilustre especialista – a mim só me restará percorrer como um espectro, de ponta a ponta, em passadas trágicas, as suntuosas salas que compõem o “meu” palácio, no Ministério da Fazenda...”

A Consultoria Geral da República divulgou recentemente dados estatísticos sôbre o custo da administração pública. Em seis meses, ou seja, de janeiro a julho do ano findo, a arrecadação da União atingiu a Cr$ 24.303 milhões, tendo, todavia, a despesa, no mesmo período, chegado a Cr$ 28.563 milhões. Isso significa ter havido, no primeiro semestre, um deficit, contra a administração pública, de Cr$ 4.261 milhões. Em igual período do ano de 54, para um aumento de 11,6 por cento na receita, assinalara-se uma despesa de 44,5 por cento.

Só o Ministério da Fazenda, consumiu 16,3 por cento dêsse montante. Ostentou, por isso mesmo, o segundo lugar!

É certo que são de natureza relevante os serviços especialíssimos do aludido Ministério. Mas, com o pretendido aumento dêsse “teto”, como irão ficar as coisas?

Não restam dúvidas: Tal “teto” é mesmo uma teta...

Extraído do Correio de Marília de 18 de janeiro de 1956

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