“Golpe Feio” da Paulista (3 de fevereiro de 1956)

Desde o dia 1º do mês em curso, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro colocou em real evidencia, mais uma elevação no custo de tôdas as suas tarifas. Fretes, passagens, leitos e cabines, suplementos, “pulmanns” foram aumentados em seus preços, que já eram bem “crescidinhos”.

Sem dados estatísticos, sem cálculos de ponta de lápis, poderemos dizer que de há uns 10 anos para cá, a Paulista está aumentando os preços de tôdas suas tarifas, numa base aproximada de vinte por cento. E quase sempre, com um único pretexto: majoração de salários.

Todos sabem que a Cia. Paulista de Estradas de Ferro é um legítimo orgulho no setor de transportes ferroviários do Brasil. Mas, ao par dessa condição, a quase infalivelmente pontual Cia. Paulista está aplicando um autêntico golpe contra o povo em geral. E um “golpe feio”, podem estar certos.

A poderosa ferrovia “lascou” um aumento de vinte e dois por cento em suas tarifas “justificando” a atitude com um necessário aumento de salários de seus disciplinados auxiliares. Acontece que o tal aumento salarial, andará aí pela casa de menos de 10 por cento e do total que será arregimentado para seus cofres, em consequência dessa elevação de tarifas, a própria organização terá um lucro de perto de 14 por cento. Isto é, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro utiliza-se do nome de seus próprios empregados, que são os obreiros dessa grande empresa, para aumentar sua própria renda.

Esse “golpe feio” significa um método indireto de melhorar suas finanças, em detrimento da própria economia popular e às custas da própria classe ferroviária.

Nesse ritmo, as coisas caminham mal. Daqui há 10 anos teremos mesmo que gastar verdadeiras fortunas para realizar uma viagem ferroviária daqui a São Paulo. E, nesse mesmo ritmo, daqui há 10 anos, a Paulista estará “um pouquinho” mais rica e seus empregados um tanto mais pobres.

Desconhecemos as justificações apresentadas pela alta direção da poderosa empresa, para obter a autorização dêsses aumentos descomunais. A rigor, ignoramos também as bases dos aumentos salariais que a sociedade anônima se propôs dispensar a seus auxiliares. Estamos nos baseando para êste escrito, primeiro em nosso dever jornalístico de noticiar e criticar aquilo que se choca com os interêsses do público; segundo, estamos considerando a questão, de acôrdo com a opinião de vários ferroviários, que se mostram descontentes com tal atitude, de vez que a grande classe servirá, nessas condições, como escudo a uma autêntica manobra de obter, para os próprios cofres da Cia. Paulista, maiores lucros anuais.

Assim, pois, não há dúvida. A Paulista aplicou um autêntico golpe. E um “golpe feio”...

Extraído do Correio de Marília de 3 de fevereiro de 1956

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