Um Comércio Curioso (29 de fevereiro de 1956)

Como se já não bastassem os “picaretas” estrangeiros que infestam São Paulo e o interior, vendendo bugigangas, santinhos e quinquilharias, trabalhando contra os próprios interêsses da Fazenda – pois não pagam impostos, em sua maioria –, surgiu agora entre nós, um empreendimento curioso. Um verdadeiro comércio ilegal, que deverá dar bons resultados para aquêles que do mesmo se valem.

Trata-se, de um fato que conhecemos apenas por reclamações de alguns de nossos amáveis leitores, pois não temos outros elementos para argumentar melhor e mais amplamente.

O que é certo, é que muita gente “vai levando a vida” à custa de uma infinidade de incautos, entregando um envelope contendo u’a medalhinha de Nossa Senhora Aparecida, que, materialmente não chegará a valer um cruzeiro, por ter sido confeccionada de péssimo material. Juntamente com a medalha, a pessoa recebe um cartãozinho impresso, onde o autor ou autores da “novidade” aplicam a “cantada”: Cr$ 20,00!

As “finalidades” apregoadas são muitas: auxílio p’ra isto e p’ra aquilo. No entanto, percebe-se que a renda, que não deve ser gigantesca porém respeitável, deverá destinar-se ao bolso de algum sabido. Duvidamos que alguma igreja tenha autorizado tal expediente. Aliás, conforme nos informaram, nos dizeres dos aludidos cartões que acompanham as medalhas, não se notam “visto”, “ciente” ou “autorizo” de nenhuma autoridade eclesiástica. Por isso pensamos que se trata de um comércio ilegal.

Os referidos envelopes estão sendo distribuidos, quase sempre, por mocinhas bem falantes, bem vestidas e, regra geral, bonitas. Quer nos parecer, ainda, que não se tratam de moças da cidade e nem tampouco jovens filiadas a nenhuma organização religiosa local.

Tudo leva a crêr que se trata de um comércio. Curioso e atrevido, ao que parece. Por certo, quem de direito, tratará de verificar a legalidade dêsse expediente. Se fôr uma coisa legal, permitida, estará bem. Se não, precisa ser combatida. A “colheita”, pelo jeito, não tem sido das piores. Quase todo cidadão que recebe o envelope e lê o conteudo do cartão impresso, fica em situação um tanto esdrúxula para devolver sem comprar, pois a redação do cartãozinho chega a ser quase uma imposição. Ademias, 20 cruzeiros, muita gente dá. E sucede que vinte daqui, vinte dali, no final do dia significam alguma coisa. Se o fim não é honesto, se tal proceder não tem cunho da legalidade, precisa ser combatido.

Vamos acabar com muitas “mamatas” de “sabidos” entre nós.

Extraído do Correio de Marília de 29 de fevereiro de 1956

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