Dolorosa Verdade (24 de maio de 1956)

Um amigo comum, comentava conosco o conteudo de nosso artigo de ôntem, quando abordamos a absurda elevação do custo de vida, em face aos anunciados “estudos” do propalado futuro salário mínimo. Expondo-nos o seu ponto de vista acerca da situação, pediu-nos: “escreva os motivos de origem dêsse estado de coisas”.

Se escreveremos “os motivos de origem dêsse estado de coisas” com propriedade, não sabemos; mas que emitiremos o nosso ponto de vista a respeito, isso o faremos a seguir:

P’ra começo de conversa, entendemos como principal responsável pela situação, diretamente, o sr. Presidente da República. Apesar da consideração e respeito que nos merece o homem eleito pela maioria do eleitora brasileiro.

O Brasil de hoje é um atestado eloquente de desgovêrnos. São tantas as falhas que se notam, que difícil seria enumerá-las. Negocistas, “tubarões” e intermediários agem livre e impunemente. As divisas não obedecem um controle perfeito de adaptação aos interêsses nacionais. Enfraquecem o Brasil, melhorando o mercado exterior. As importações de coisas banais e automóveis, de luxo, são a prova disso. A lavoura continua desamparada e chegamos ao cúmulo de importar milho!

Não existem freios capazes e nem pulsos suficientes para puxar as rédeas da inflação e do aumento do custo de vida, cada vez em mais louca disparada. O desafio aos poderes constituidos já está se tornando ridículo. Para êles, é claro.

O sr. Juscelino Kubitschek, por ocasião de sua campanha eleitoral, inundou o Brasil com uma das mais completas “plataformas de govêrno”, na qual prometeu, através de todos os meios de divulgação, resolver os problemas fundamentais do país. É verdade que o presidente eleito está há pouco tempo no govêrno. Mas o que está acontecendo nesse ínterim, é desalentador.

“Em 5 anos darei 50 anos de progresso ao Brasil”, afirmou o sr. Juscelino Kubitschek. Prometeu-nos a ampliação da Petrobrás; a solução para o problema da falta de água na Capital Federal; equipamento e ampliação das ferrovias dos Estados; a reforma cambial; energia elétrica para o interior (Eletrobrás); estrada pavimentada ligando o sul ao norte do país; criação de novos Ministérios; um “Metrô” para o povo carioca; acesso à exploração agrária; a mudança da Capital da República, em apenas três meses; novas estradas de rodagem; reforma do ensino; mais hospitais e escolas para o interior; plano nacional de alimentação; estagnação do custo de vida; e muitas outras coisas.

E o que aconteceu?

A vida sobe dia a dia; os impostos foram majorados; os preços dos produtos horticolas subiram assustadoramente; minerais atômicos são exportados clandestinamente; a farinha de trigo foi majorada; as tarifas postais subiram até 700%; o comércio de utilidades jamais foi tal desenfreado e altista; nunca se verificou, em tão pouco tempo, tamanha avalancha de importação de carros de luxo; os transportes subiram; acentuou-se a crise de energia elétrica, afetando principalmente a própria economia dos Estados nordestinos; os produtos farmacêuticos subiram abusivamente; aumentaram os preços dos cinemas nas capitais; está em perspectiva o aumento das tarifas telefônicas; subiram os transportes ferroviários em geral, principalmente pelas empresas autárquicas federais; e muitas outras coisas, também!

Quem então é o responsável? O Govêrno, Flávio Costa ou o próprio Santo Padre?

Assim é que pensamos. E esta é a dolorosa verdade!

Extraído do Correio de Marília de 24 de maio de 1956

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