Marília não tem teatro (26 de maio de 1956)

É claro que a afirmativa constante do epígrafe não é segredo para ninguém que reside em Marília, ou, que, fóra daqui, conhece nossa cidade. Mas acontece, que, até há pouco, tínhamos dois lugares apropriados para exibições teatrais quando necessárias. Agora temos um, por mais alguns dias. Depois disso, restar-nos-á a alternativa de, havendo necessidade, improvisar uma Associação Comercial, alguns Ginásio ou valermo-nos de auditórios de alguma rádio emissôra.

Até aqui, tôdas as exibições teatrais eram feitas num dos cinemas da cidade (afóra as demonstrações estudantis ou de fundo beneficente e amadorista, que eram apresentadas em locais adaptados). E em muitas ocasiões, assistimos ao palco do Cine São Luís (antes da reforma recente porque passou), teatros, festas, exibições de artistas, etc.. Hoje em dia, remodelado o aludido cinema, tendo a sua tela panorâmica de borracha fixo e imóvel, não se pode usar o palco para fins que não a exibição de películas cinematográficas. Resta apenas o Cine Marília. Êste, porém, dentro em pouco, passará a possuir o mesmo melhoramento citado e ficará em situações idênticas ao atual Cine São Luís.

É verdade que Marília é uma cidade nova, sem uma vida artística muito projetada no momento. Mas como um centro progressista, dia mais dia menos necessitará com maior urgência, o seu Teatro Municipal. Amanhã mesmo poderá dar-se o caso de precisarmos acolher entre nós, uma revista musical, uma caravana de artistas, um concerto lírico ou coisa equivalente. Que se fará a respeito? Onde acomodar tais apresentações? Como repercutirá fóra de nossos pagos a notícia de que tal exibição não foi possível em Marília por falta de um lugar apropriado?

É verdade que é uma hipótese. Mas não está afastada a sua possibilidade. Como proceder então, depois do Cine Marília tornar-se, em virtude da adaptação tela panorâmica (de borracha, fixa), impossibilitado de prestar-se para qualquer exibição teatral ou semelhante?

Nós não chegaríamos aqui, a fomentar uma campanha para a construção de um Teatro Municipal. Pelo menos no momento, quando sabemos sobejamente as dificuldades financeiras do município, ante as enormes cifras que representam os compromissos de despesas para os cofres da Prefeitura. Longe de nós propugnar por uma causa dessa (no momento), embora sabendo que seria mais um tijolo neste grande edifício de dinamismo e progresso que se chama Marília.

A verdade é que a questão, embora seja de plana inferior, sem representar “sangria desatada”, não deixa de ter a sua significação na própria vida comum (social e progressista) da cidade. E como é um assunto que pensamos ter passado pela cabeça de pouca gente, fazemos aqui sua alusão. Com o sentido de colaborar. Pode dar-se que dêste nosso lembrete, surja alguma idéia, para evitar-se uma possível dificuldade social amanhã, que, em última análise, seria mesmo um pequeno “senão” para as próprias autoridades, ou, possivelmente, uma “dor de cabeça” para ser resolvida em última hora.

Depois de remodelado o Cine Marília e com os melhoramentos apontados, ficando impossibilitado de servir para os fins aludidos, bom seria que dispuséssemos de um outro ponto capaz de substituir tais exigências.

Citamos revistas teatrais, como poderíamos ter citado uma conferência médica, política, cívica, municipalista, etc.. ou homenageativa. Ou de qualquer outro motivo, que viesse a interessar diretamente à cidade e o povo mariliense.

Não seria o caso de pensar-se sôbre o assunto antes, para não ter a preocupação e a dificuldade de agir “em cima da hora”?

Extraído do Correio de Marília de 26 de maio de 1956

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