Novos salários (23 de maio de 1956)

Não vamos revelar nenhuma novidade neste comentário. Vamos apenas tecer considerações dum assunto conhecidíssimo por todos os brasileiros. Tão conhecido, que os próprios parlamentares foram os primeiros “a levantar a lebre”, sem qualquer outra providência.

É que os balões de ensaio das majorações salariais são verdadeiramente improdutivos. A rigor, denotam mesmo incapacidade administrativa no sentido. A elevação do nível de vida, tão alta e tão ascensional é um problema aparentemente insolúvel, desafiando a argúcia e o tirocínio administrativo de todos os govêrnos. Nem o presidente da República, nem os ministros de Estado, nem técnicos de nenhuma espécie são capazes de provar, com “a” mais “b” que ainda existe no país um meio de estancar o fenômeno que cresce mais rapidamente do que o “baurú” em terras cafeeiras.

O salário mínimo em bases mais elevadas, é necessário. Mas não soluciona a questão. E nunca resolverá o problema. O círculo vicioso torna-se cada vez mais aflitiva.

Foram só tornados públicos os ensaios e já a vida deu mais um “salto”. Aliás, isso não é novidade. O pobre hoje em dia é um malabarista. Sofre como um boi carreiro – sem protestos. Tem uma paciência de Jó e uma bondade paquidérmica.

Enquanto se confabulam e se “estudam” os novos níveis salariais, dando-se publicidade alardeante, os “tubarões” vai agindo; isto é, vão arrancando as tiras das costas do povo. Quando “sair” o salário mínimo, a vida estará na mesma – não na mesma, mas pior.

Se existisse um critério sensato e profundamente nacional – mais do que isso, patriótico – por parte das autoridades competentes, e, antes dessa publicidade multi-colorida, agir de modos a congelar os preços e estabelecer o nível salarial sem estardalhaços, por centro as coisas estariam noutro pé. Mas é que isso não é possível. Não é possível congelar os preços, uma vez, que não existe incentivo e apoio à produção. Nem amparo condigno. Até o milho (pasmem, leitores!) já importamos (graças a “dona” COFAP!)! Como será possível congelar os preços, se a produção nacional, em muitos pontos deficiente, está nas mãos dos intermediários, devidamente escudados pelo cunho oficial das comissões de abastecimento? Como será possível congelar os preços, quando grande parte da produção, mesmo os mais comezinhos produtos são importados e temos que nos sujeitar ao mercado exterior, carreando divisas para fora e enfraquecendo o Brasil, já tão anêmico?

Enquanto se fala e se “estuda” o aumento salarial, o povo que vá apertando a cinta; seus filhos que continuem definhando, por fome, falta de medicamentos, morrendo de frio. Reconhecer “a situação desesperadora, aflitiva”, etc., é muito fácil para aquêles que dão entrevistas à imprensa. Os fatos é que são elas...

Extraído do Correio de Marília de 23 de maio de 1956

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