O Governador Contra Marília (05 de junho de 1956)

Não existe nenhum sensacionalismo ou tragicidade aparente, no epígrafe que escolhemos para nosso comentário de hoje. A realidade, oficial, aí está: O Governador em exercício, general José Porfírio da Paz, acaba de dar um golpe de morte nas justíssimas e humanas pretensões do povo mariliense, obstando, em mensagem enviada à Assembléia, com pareceres oficiais, que Marília mereça a contemplação de um curso oficial de ensino superior.

É inacreditável o acontecimento. Consideramo-lo indigno para com o povo mariliense, êste povo que construiu em pouco mais de vinte anos, sem subvenções oficiais, esta célula-orgulho de progresso no interior bandeirante.

Cidades de menor expressão geográfica e de menor densidade de população, situadas em zonas melhor servidas no setor educacional, possuem hoje suas escolas superiores. Marília, embora tendo o direito de exigir sem pedir, pelos fatos irrefutáveis que apresenta, continua a ser a eterna orfã dos poderes constituidos!

Só no Brasil, é que podem acontecer coisas dêsse naipe! Países que nós consideramos ingenuamente mais atrasados do que o nosso, jamais deixam que a mocidade estudantil clame, implore, mendigue uma escola para estudar, para ser mais util à própria Pátria! O próprio govêrno vem de encontro a essas aspirações, que são necessidade primordial do progresso e desenvolvimento de qualquer nação. Aqui, não. Aqui, mesmo tendo o direito, esta razão cede terreno a manobras políticas, confabuladas no aconchego acolhedor de gabinetes políticos, sob o aroma delicioso do café paulista e sob a fumaça agradável de caríssimos charutos havanos. Ninguém poderá contestar-nos. Nem mesmo o sr. Governador.

É de se lamentar, êsse gesto do general Porfírio da Paz, que reputamos dos mais infelizes. É de despostar e de decepcionar a atitude do govêrno de São Paulo, votando nessa circunstância, contra Marília e seu povo. Fazendo ruir um sonho justo, acalentado pela mocidade estudantil de Marília e da região; um sonho justo, patriótico, digno de encômios, merecedor do calor obrigatório das autoridades governamentais. Vem assim por terra, não só o sonho – uma necessidade indiscutível, uma luta gloriosa, na qual participa Marília inteira, por sua classe estudantil, sua Câmara Municipal, seu Prefeito, seus dirigentes escolares, suas associações de classe a imprensa mariliense.

O governador em exercício, que por mais de uma ocasião levou para seu nome votos de eleitores marilienses, agiu contra Marília! Numa atitude, repetimos, que consideramos indigna para com êste grande e obreiro povo da “cidade menina”.

Esperamos que s. excia. seja alertado em tempo, do erro que contra nós está praticando! Porque, com essa atitude, o governador colocou-se contra Marília e seus interêsses de progresso!.

Extraído do Correio de Marília de 05 de junho de 1956

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