Política e Politicalha (08 de maio de 1956)

Não somos entendidos no assunto. Confessamo-lo sem pêjo. No entanto, entendemos a política, como um plano de ação, organizado e desenvolvido por grupos de pessoas, dentro de uma doutrina pré-estabelecida, objetivando servir, de modo direto e democrático, à Pátria e à coletividade brasileira.

Difamar, caluniar, entrar no terreno pessoal, com ataques individuais e esgaravatando feridas de adversários de ideologia partidária (tão comum no Brasil em épocas de eleições), para nós não é política. É sordidez, baixeza, incapacidade política. É politicalha.

Já temos comentado isto em outras ocasiões. E continuamos acreditando que muitos políticos nacionais carecem entrar para uma escola da decência parlamentar, onde a ética seja matéria obrigatória.

Um deputado estadual, nos dá agora desagradável exemplo dêsse estado de coisas. O sr. Gabriel Quadros, em violentos ataques ao Governador do Estado, seu próprio filho, diz em plenário cobras e lagartos daquêle que tem o seu sangue, numa demonstração contundente para todos os paulistas!

Vejam os leitores, como algumas pessoas manuseiam a política: até renegando num parlamento o próprio filho (desmoralizando a própria família)!

Não estamos defendendo o sr. Jânio Quadros. Também não estamos acusando o sr. Gabriel Quadros. Nem ainda querendo analisar os motivos da briga política, não só por não ser de nossa competência, mas, acima de tudo, por não ser essa a nossa pretensão.

Apenas comentamos a questão jornalisticamente. E como tal, censuramo-la.

Fatos dêsse porte são estarrecedores.

Vejam os leitores, até que ponto chega no Brasil aquilo que não passa de torpezas, com o rótulo de política. Em parte, estamos com a maioria de semi-analfabeto eleitorado, que dia a dia mais se desilude dos políticos profissionais.

E, francamente, se isso é o que muita gente entende como política, confessamos que, à vista de acontecimentos dêsse jaez, nós que nunca morremos de amores pela política, cada vez ficamos mais envergonhados.

Extraído do Correio de Marília de 08 de maio de 1956

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