Todos são contra o póbre (31 de maio de 1956)

Embora pareça, não há lugubridade ou tragicidade no título que encima nosso artigo de hoje. É que da maneira que as coisas caminham hoje em dia, somos forçados a assim pensar. Diz o brocardo popular que “pobre não tem vez”. E não tem mesmo.

A SUMOC, ao que parece, acaba de chutar fóra um “penalty”. Melhor dizendo, está ensaiando um golpe de morte contra as classes pobres, ao proceder os estudos de instruções visando as restrições que ferirão de morte os sistemas de vendas a crédito, o que trará, inegavelmente, prejuízos sem conta à população.

O próprio Govêrno precisa ser convenientemente elucidado a êsse respeito. A medida óra cogitada, visa fazer desaparecer os sistemas de venda conhecidos como “crediários” tão em voga no Brasil e tão úteis para os chefes de famílias pobres, que só assim podem adquirir muitos objetos que de outra forma jamais o fariam. Em última análise, o sistema não chegaria mesmo a desaparecer. Acontece porém, que, em tal hipótese, os onus decorrentes do entrave e embaraços oficiais à manutenção dos “crediários” serão carreados para o lombo do povo. “In finis” significa que as mercadorias sofrerão aumentos extras (afóra a corrida altista quase natural de hoje em dia).

Alega o órgão referido, que a intenção é combater a inflação no Brasil! Francamente! Isso até parece brincadeira. Não sabíamos que o combater a inflação é sufocar mais ainda a classe pobre. Sim, porque os ricos não necessitam adquirir nada a prestações, pagando 10% a mais, assinando “papagaios” e ainda por cima, implorando obséquios de avalistas, depois de oferecer tôdas as garantias que dispõem, como acontece com os pobres.

No início, pensamos que o caso tinha sido uma idéia infeliz, uma brincadeira apenas. Depois nos convencemos ao contrário, quando a questão começou a caminhar pelos meios oficiais. E nós, como temos tanto medo de coisas oficiais, vamos nos colocar ao lado dos pobres, nessa sua justa reação. Vamos lavrar aqui, o nosso protesto. Veemente.

Todos são contra o pobre: intermediários, “tubarões”, monopolistas... mas até a SUMOC??? Tantas coisas de maior importância para êsse organismo cuidar e resolver e vai envolver-se justamente com um assunto tão visivelmente contra a classe pobre!... E sabendo quão grande é!

Extraído do Correio de Marília de 31 de maio de 1956

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