O Salário Mínimo (20 de julho de 1956)

A elevação dos níveis salariais no Brasil era mesmo uma contingência inadiavel, decorrente da própria ordem natural da subsistência nacional, tão dificil em nossos dias. Já tivemos o ensejo de nos manifestar a respeito, sob o ponto de vista puramente jornalístico. E concluimos sem dificuldades de que a situação não será atenuada um tiquinho siquer. Pelo contrario, tornar-se-á mais crítica, mais desesperadora. Não vai nisso nenhum mistério, nenhuma novidade. Nem tampouco espírito derrotista ou anti-patriótico. A verdade é que o atual e desagradável estado de coisas, continua a desafiar a argúcia e a capacidade administrativa de nossos governantes, sem que seja possível, pelo menos aparentemente, um dique à corrida altista do custo de vida.

Desde que foram (tornados) públicos os primeiros “balões de ensaios” acerca do salário mínimo óra decretado, provou-se que os gêneros de primeira necessidade e os utensílios domésticos deram “saltos” gigantescos, incrivelmente contundentes à própria vida do (trabalhador) nacional de classe média e pobre. E continua ascendendo, pirotécnicamente. E, ao que se deduz, pelo que estamos verificando, as coisas tendem a piorar. Parece-nos que jamais se verificou no Brasil, com tanta agencialidade, o descontrole nesse campo. A vertigem da alta atingiu, ultimamente, índices inacreditáveis, que chegaram a colocar o Brasil em situação de destaque nesse setor, perante todas as nações do mundo.

Ninguém está satisfeito hoje em dia. não existe mais termômetro para medir a febre dos constantes aumentos das coisas. Não existem fórmulas e nem ações para deter um pouco essa verdadeira onda de desgraça. Infelizmente. A situação está a exigir melhores ações de nossos governantes, no sentido de pelo menos conter a corrida altista. No nordeste, o drama é de fome, como decorrência da seca implacável. Aqui no sul, o drama poderá tornar-se tão angustiante quanto a fome dos nordestinos, se nossas autoridades governamentais não tomarem outras providências em beneficio do povo, controlando melhor ou congelando o custo de vida.

A verdade é que desde que iniciaram-se os primeiros passos pela majoração do salário mínimo no Brasil, até a sua decretação e até ainda a sua vigência, a aquidistância geral de todas as coisas, no coeficiente da porcentagem de altas, deixou longe a diferença do propalado aumento. Isto sem se contar com outra faceta da questão: o número de desempregos, que a vigoração da lei trará à milhares de brasileiros.

Extraído do Correio de Marília de 20 de julho de 1956

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