Ainda o petróleo Boliviano (04 de agosto de 1956)

Várias cartas e telefonemas chegaram até nós, em virtude de nosso comentário de há dias, acerca do caso divulgado, sôbre a exploração de petróleo boliviano, pelo Brasil, numa área de 32 mil quilômetros quadrados naquêle país. Os leitores têm lá suas opiniões, é claro. Por isso, é que alguns aplaudiram o que escrevemos, enquanto outros nos censuraram, o que para o jornalista dá na mesma, uma vez que a pessoa que escreve para o público, está mesmo sujeita a críticas de ambas as formas, do mesmo modo que o artista que se exibe num palco. Acontece, porém, que aquilo é exatamente o que pensamos e é também o que pensa sensatamente a maioria das gentes que vivem neste imenso Brasil.

Para provar que estávamos certos, embora considerando-se a impossibilidade formal, do Brasil realizar integralmente a exploração dêsse produto no exterior, quando nem em seu próprio sólo o está fazendo totalmente, basta o raciocínio isento de paixões, mesmo de um garoto de curso primário. “Quando a esmola é muito grande, o santo desconfia”, diz antigo brocardo. Aquêle orgulho que brotou natural e espontaneamente na consciência de muitos brasileiros, por certo deve ter desaparecido. Sabem lá o que representaria, para nosso país, assim, “de mão beijadas”, 32 mil quilômetros de área petrolíferas num país estranho? Dizem os entendidos que a Bolívia é um país bastante mais atrasado do que o nosso. (Oportunamente vamos perguntar sôbre isso ao nosso linotipista Alberto Sandoval, que é boliviano). Cá p’rá nós, o sr. Suazo, presidente da Bolívia, tentou foi aplicar um “bruto” golpe em “seu” Juscelino: O Brasil que explore “no peito” o petróleo boliviano (o dr. Suazo, inteligente como deve ser, sabe que o Brasil não poderá, nem agora nem daqui há muitos anos, levar a cabo a empreitada). Em troca, o Brasil dará um porto de mar, para uso e domínio livre da Bolívia. Entenderam bem o ponto nevrálgico da questão? “Moraram”?

Que dizer, que, do jeito que vão as coisas, os entendimentos, conchavos e outras denominações que deram a essas conversações entre brasileiros e bolivianos, tendem a voltar à estaca zero; isto é, na prática real permanecerá em vigor o tratado existente entre os dois países, desde 1938, o que quer dizer, o Brasil terá o “direito” de explorar o petróleo boliviano “existente” numa área gigantesca de 32 mil quilômetros quadrados, o que deverá significar, sem dúvida alguma, que a Bolívia vai “dar” uma grande parte de seu território ao nosso país! O resto é com o Brasil. Já imaginaram os leitores, ou mesmo alguns homens do Govêrno o que significará, em cruzeiros, sòmete os primeiros passos? Sòmente o transporte de pouco material que dispomos? O início dos trabalhos? Os técnicos e os operários, as perfurações, as análises, etc., etc.?

Se o país não dispõe de meios suficientes para explorar com satisfação seu próprio sub-solo, não será arriscada a empreitada? Oxalá estejamos equivocados em nosso modo de pensar.

Extraído do Correio de Marília de 04 de agosto de 1956

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)