Laboratórios “Fantasmas” (17 de agosto de 1956)

Tomou-se em São Paulo, uma atitude que de ha muito deveria estar em vigencia, não só na paulicéia, como em todo o Brasil. É o caso do Governo, que decidiu arregaçar as mangas e entrar em ação contra incontáveis “laboratórios” farmaceuticos que existem espalhados, quase em sua totalidade na própria Capital paulista, que nada mais são do que verdadeiros antros de indivíduos gananciosos, desonestos e desalmados, que se prevalecem das misérias e necessidades do povo, para impingir-lhe medicamentos fraudados alguns e absolutamente inócuos outros.

O Chefe dos “Comandos Sanitários”, Dr. Mario Paiva, recebeu, a respeito, do Governador Janio Quadros, o seguinte despacho: “Aos “Comandos Sanitários”. Examinar. Articular-se com outros serviços de saúde para combate rigoroso aos laboratórios desonestos. O “Adolfo Lutz” colaborará. Todo o empenho. 7 de agosto de 1956. (as.) Jânio Quadros (foto)”.

Esse assunto deveria ter merecido enérgicas atenções do Governo, de ha muitos anos atrás. É uma questão de verdadeira humanitariedade. Um grupo de homens verdadeiramente criminosos, brinca com as misérias do povo, enriquecendo-se. É um crime inqualificável, o abusar do povo dessa maneira: enganando os necessitados e doentes, com drogas falsas e inócuas. Principalmente tendo-se em vista os preços estratosféricos de hoje em dia, dos produtos farmacêuticos. Aqueles que assim agem, devem, de pronto, ser agarrados pelo gasganete e pagar os crimes no fundo de um cárcere. Devem pagar pelo mal que fizeram e continuam fazendo à própria humanidade. O áto de ludibriar com medicamentos fraudados as misérias e necessidades humanas pode ser classificado como anti-cristão. Só desalmados podem enganar tão frontalmente, aqueles que doentes, empenham-se na luta por escapar a morte. Só verdadeiros bárbaros podem assim agir. O crime é inafiançável. Quando um cidadão ou grupos de cidadãos se propõe a assim proceder, é porque o sentimento de fraternidade , o espírito de respeito ao próximo, a solidariedade humana evaporaram-se, para dar lugar a sentimentos puramente bestiais.

Esses casos são realmente revoltantes, pela gravidade que encerra o menosprezo para com o próximo. Pela indiferença que apresentam, para com a própria vida dos semelhantes.

O Governador Janio Quadros, que tanto tem primado pela honestidade, que jamais descance quanto à essa luta gloriosa e profundamente humana. Que aja sem complacência contra aqueles que, objetivando apenas o vil metal, pouco se lhes dá com o próprio povo.

Custa até a crêr, que existam brasileiros desse naipe! Que brinquem, assim, com a saúde e a própria vida do povo, vendendo a um necessitado, muitas vezes morimbundo, um remédio sem o intrínseco valor de suas propriedades medicinais.

Crime abominável, êsse, que deve ser desfeito e punidos os criminosos, para a felicidade do povo brasileiro e para o próprio bem do Brasil!

Extraído do Correio de Marília de 17 de agosto de 1956

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