A mocinha e o dinheiro da Companhia (03 de agosto de 1956)

Nos ocupamos outro dia, nesta coluna, de relatar o fato do guarda civil que deixara na instalação sanitária do Cine Bar, o revolver pertencente à corporação que serve. Simultaneamente, fazíamos um apêlo à pessoa que tivesse encontrado a arma, para que a devolvesse, pois assim estaria evitando dissabores, responsabilidade maior e possível perda de emprego do bom policial. E o revolver apareceu, conforme noticiamos posteriormente ao referido artigo. A pessoa que o encontrara, entregou-o, através do confessionário, ao padre Cesar e das mãos dêste foi ter ao sr. Chefe da Guarda Civil. Ninguém ficou sabendo quem foi o cidadão e a ninguém mais interessou saber do fato, uma vez que o objetivo de nosso escrito, era, exclusivamente, a devolução da arma ao legítimo dono.

Agora, mais um caso registramos, com alguma aparência ao relatado. É o caso da mocinha Maria José Simões, cobradora da Kosmos Capitalização S. A., que perdeu, num ônibus da linha Catanduva, uma carteira contendo mais de 17 mil cruzeiros pertencente à Cia. aludida e pouco mais de mil “pratas” de sua propriedade. Foi um golpe duro para a mocinha. Orfã de pai e mãe, trabalha honestamente para sua própria subsistência. De bons princípios, de vida escorreita, Maria José está desolada. Soubemos que teve que recorrer a inúmeros amigos, solicitando pequenos empréstimos em dinheiro, para poder “cobrir” a importância que lhe não pertencia. A Companhia em nada ficou prejudicada. Maria José é que vai trabalhar agora, cerca de um ano, para poder refazer-se do prejuizo.

Se a pessoa que encontrou tal importância ler êste artigo ou dêle tiver conhecimento, aqui deixamos nosso apêlo: devolva o dinheiro a Maria José. Mesmo que haja gasto uma parte, devolva o restante, pois a moça é pobre e está devendo essa importância a outros; precisou tomar a soma emprestada, por dois motivos: por seu dever de honestidade na solvição do compromisso (uma vez que o dinheiro não era de sua propriedade) e também para não perder o emprego, que é o seu ganha pão.

Conversando conosco, a mocinha mostrou-se conformada, porém sem esperanças de reaver a importância. Com estoicismo, nos disse dar graças a Deus, por ter saúde e vontade de trabalhar, para recuperar o prejuizo (prejuizo que lhe custará quase um ano de trabalho honesto).

Quem encontrou a carteira com o dinheiro, que ponha a mão na consciência, devolvendo-o a Maria José.

Se estamos fazendo êste apêlo, não estamos fazendo nenhum favor à infortunada mocinha. Apenas estamos relatando e opinando numa questão que julgamos digna de ser lembrada, principalmente para quem está de posse do dinheiro em apreço. Se quem tivesse perdido a importância fosse pessoa de posses e tivesse perdido dinheiro próprio, não faríamos tal apêlo, muito embora a honestidade fosse necessária ser por nós lembrada. O caso, aqui, é diferente: a moça perdeu o que não lhe pertencia e o que não tinha para reembolsar. Pediu emprestado de amigos, para sair-se airosamente dessa infelicidade. E o mais importante – é bom que se repita –, é que a mocinha é órfã de pai e mãe e trabalha honestamente para subsistir. Que atente para isso a pessoa que encontrou o dinheiro!

Extraído do Correio de Marília de 03 de agosto de 1956

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