O incrível Carlos Lacerda (28 de agosto de 1956)

Não somos políticos, já afirmamos inúmeras vezes. Jamais tivemos vocação para a política e sabemos perfeitamente que nem mesmo a “pinta” de político possuimos. À rigor, confessamos mesmo que não entendemos bem de política. Pelo menos, não compreendemos muita coisa que existe errada por aí, muita safadeza que se pratica à miude, sob o rotulo ou pretexto de política, democracia e outras coisas mais.

Não vai neste artigo, qualquer coisa contra a agremiação partidária que o sr. Carlos Lacerda (foto) é filiado e sob cuja legenda foi eleito deputado federal. Vamos analisar o homem e não o partido. E será, sem dúvida, uma análise difícil.

Perde-se todo aquele que pratica excessos. Quaisquer que sejam eles.

O sr. Carlos Lacerda, projetou-se rapidamente no cenário da política nacional, mercê de sua inteligência admirável e sua farta imaginação. Orador fluente e jornalista dos mais capacitados, sua campanha primordial empolgou o Brasil e carreou-lhe uma multidão de admiradores. De fato, o Sr. Lacerda iniciou bem a caminhada, mas perdeu-se no meio da estrada, desviando-se da rota. Principiou a pensar que ele poderia reformar o Brasil “à tapa”. Apontou erros e mais erros, que todos reconhecem. Criou “casos” e mais “casos”. “Desceu a lenha” em Deus e Todos os Santos – aí residiu seu maior erro. Criticou com veemência, mas dificilmente soube apontar ou ele próprio liderar soluções para os erros. E foi se excedendo sempre.

Dividiu a opinião pública. Criou animosidade entre partidos políticos. Foi o “pivot” irretorquível de fatos que reputamos dolorosos para a vida nacional.

Circunstâncias que todos conhecem, fizeram o Sr. Carlos Lacerda “pirar”. Mas o homem não seguiu o exemplo de Washington Luiz, Plínio Salgado e outros brasileiros exilados. Não foi capaz de ficar calado. De Portugal, onde está residindo provisoriamente, decidiu criar mais um “caso” no Brasil, numa época algo tensa como é a atual. Condenamo-lhe tal áto. Não conhecemos o seu manifesto, que tanta celeuma acarretou nos últimos dias. O fato é que obrou mal o homem que está fora do Brasil, que precisou sair às pressas da Pátria, por questões políticas e ainda insiste em fazer com que permaneçam os seus pontos de vista, mesmo que para tal hajam consequência desastrosas para o povo brasileiro!

Imaginem os leitores desta simples coluna diária, o que teria acontecido no final da semana passada, se o Sr. Carlos Lacerda se encontrasse entre nós e lançasse êsse faladíssimo manifesto! Pensem sobre isso, com a devida ponderação. Reflitam, leitores.

Óra, êsse homem está errado. Não em seu ponto de vista externado no manifesto (que desconhecemos), mas na teimosia e na irreflexão da atitude, que poderia ter sido ainda mais desastrosa. Em nosso ver, não é assim que se colabora para o engrandecimento do Brasil, para a harmonia do povo brasileiro e para despertar maior interesse de nossos governos, frente aos problemas nacionais. O Sr. Carlos Lacerda, indiscutivelmente, está usando um método detestável: o método confusionista.

Extraído do Correio de Marília de 28 de agosto de 1956

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