O custo de vida em Marília (27 de setembro de 1956)

O fenômeno está de tal forma arraigado entre nós, em todos os quadrantes do Brasil, que se tornou uma problemática insolúvel, a desafiar a argúcia, a competência e as boas intenções de muita gente investida em poderes governamentais.

São Paulo é conhecida como “o paraiso dos “tubarões”. Acontece, que, de modo geral, a vida em Marília chegar a ser mais cara do que na paulicéia. As bases desordenadas dos alugueis de casas, em Marília, relativamente, são superiores às da Capital. O toucinho em São Paulo é vendido a 38 cruzeiros o quilo e aqui a 45 “pratas”. Um frango, em Marília, 70 a 75 cruzeiros, enquanto na Capital, nos açougues a mesma ave é vendida à razão de 60 cruzeiros. O preço do pão, de farinha pura, em São Paulo, é de 14 cruzeiros a unidade de quilo. Aqui não existe medida para aquilatar o preço dêsse produto, mas, se formos considerar o seu custo, a rigor, em comparação com o peso, temos a convicção que andará pelo preço de 20 e tantos cruzeiros. E, na maioria dos casos, o pão não é lá grande coisa em Marília, quando muitas vezes se apresenta mal amassado, de farinha misturada, mal cozido, etc..

Um pé de alface, custo o absurdo de 3 cruzeiros. Frutas e outros legumes, andam por preços proibitivos. A respeito, conversávamos outro dia com um fiscal estadual, no Mercado Municipal. E o funcionário nos observava um fato curioso. Em alguns momentos de permanência defronte a uma banca de verdura, notou que a maioria dos fregueses que adquiria verduras e frutas, em proporções normais para uma família média, gastava aproximadamente 70 cruzeiros, que pouco volume fazia nas sacolas destinadas às compras. No entanto, nos contava o funcionário, as vendas à vista do aludido comerciante, registravam um movimento de 45 a 70 cruzeiros diários!

O custo de vida é um despropósito em Marília. Se fôssemos comparar tudo, chegaríamos à conclusão de que cá entre nós, as coisas custam mais do que em São Paulo, mesmo aquilo que é produzido no município. Em Botucatú, com o novo aumento autorizado pela COFAP, o leite pasteurizado é vendido à razão de 6 cruzeiros o litro.

Existem opiniões divididas acerca de a COMAP poder ou não fazer alguma coisa em benefício do povo, se reorganizada. Nós entendemos que o referido organismo será útil e necessário, se constituído à base de elementos que venham de fato a representar os interêsses do próprio povo e não de classes potenciais, como tem acontecido no passado. Se a COMAP for integrada por elementos que representem, não os industriais e os comerciantes, porém os industriários e os comerciários, com vontade de trabalhar e com interêsses reais de impedir muita barulheira que existe por aí, as coisas melhorarão um pouco.

O sr. Prefeito Municipal anunciou há tempos, a reorganização do citado órgão controlador de preços. No entanto, as providências, ao que parece, não foram além do anúncio, para azar do povo mariliense.

Extraído do Correio de Marília de 27 de setembro de 1956

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