O “negócio” é o seguinte (04 de setembro de 1956)

O atual estado de democracia em que vivemos, nem sempre é bem interpretado cá entre nós, os brasileiros. Verdadeiros atos de desrespeito público, são hoje em dia generalizados, entre o povo, com alusão aos poderes constituidos. Acontece que essa desconsideração mútua, é, quase sempre, votada entre si, por muitos daquêles que ocupam posições de relevo nas esferas colaboradoras do próprio estado governamental. Se, por um lado, intimamente ou publicamente, condenamos tal proceder, vamos aceitando a contingência, em nome da democracia.

Não há muito, verificou-se um incidente entre duas personagens importantes em nosso mundo político. O deputado Aliomar Baleeiro e o ministro José Maria Alkimin. O incidente evoluiu tanto, a ponto de ultrapassar os limites da ética e da elegância, tendo descambado para impropérios. O sr. Baleeiro, em entrevista concedida a um matutino da Capital Federal, assim se expressou:

- “Quando eu sei de determinados escândalos, costumo revelar apenas 20 por cento dêles. Tenho vergonha dos juízos que os estrangeiros possam fazer sôbre nós. O ministro ignora êstes meus escrúpulos, porque não me conhece bem, apesar de sermos ambos deputados. Aguardo a publicação do seu discurso no “Diário do Congresso” para convidá-lo a aparar a ponta da sua língua, quando quiser chamar de leviano a um homem que nunca arguiu um fato a quem quer que fosse, a não ser quando o fato é puramente verdadeiro. Ninguém, até hoje, teve a coragem de chamar-me de leviano. O sr. Alkimin não a terá impunemente. Assim que puder, na Câmara, responderei às palavras temerárias que contra mim foram assacadas pelo ministro da Fazenda, de cuja existência eu nem me daria conta, tão pouco ela significa para a solução dos problemas nacionais. Por piedade para com o sr. Alkimin evitei até agora acusá-lo diretamente. Mas já que ele se mostra tão iracundo, vou mostrar-lhe, com os documentos na mão, quem é o leviano: se sou eu ou é êsse incrível ministro, que como homem público está procedendo da maneira como vou mostrar. Só não o mostrarei se os cartórios já estiveram falsificando documentos. Por isto, em vez dos 20 por cento habituais, vou dizer tudo o que sei – e que posso provar – sôbre o sr. Akkmin”.

Vejam os leitores, os têrmos utilizados pelo aludido homem público. Por outro lado, as expressões a respeito, do sr. ministro da Fazenda, não andaram mui distantes, na equiparação geral do respeito mútuo.

A gente, que tem aquêle orgulho imenso de bater no peito e dizer “sou brasileiro”, sente um certo mal estar, quando tem conhecimento de fatos dêsse jaez. Há muita individualização em atos daquêles que têm sôbre seus ombros grande parcela de responsabilidade, dentro dos limites da própria vida da Nação. Existe muito desrespeito à Lei, partido de esferas elevadas.

Como se portarão os historiadores, para transportar à posteridade, os atos de homens públicos dessa natureza?

O “negócio” é o seguinte: Ou nós estaremos errados ou os srs. Alkimin e Baleeiro...

Extraído do Correio de Marília de 04 de setembro de 1956

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