Vamos apertar o cinto? (07 de setembro de 1956)

Em Botucatú, com o novo aumento do preço do leite, autorizado pela benevolência de “dona” COFAP, o produto foi para Cr$ 6,00 o litro. Em Baurú, o pão foi fixado em Cr$ 14,00 o quilo, numa atitude de bom senso, em que entraram em acordo mútuo a Prefeitura e as padarias da “Capital da Terra Branca”. Em quanto isso, em Marília, o pão deve andar aí pela casa dos vinte ou mais cruzeiros o quilo, se considerarmos o peso e o preço do produto distribuído na cidade. O leite em Marília... bem o leite “são outros quinhentos cruzeiros”.

O açucar embora continue a ser vendido para o exterior por preço irrisório, “subiu” em média 50%, para nós.

O aspectro do “salário mínimo” criou um verdadeiro caso de vergonha e de consciência no Brasil, onde ficou provada a inépcia das autoridades incumbidas de controlar e fiscalizar os preços dos gêneros alimentícios. O descontrole, nesse sentido, é verdadeiramente abismador.

O pior é que não ficará só nisso. Com o propalado aumento de imposto de vendas e consignações, que em breve vai “estourar”, poderemos, desde já, ir apertando o cinto em mais um furo. Os preços dos calçados e das roupas, atualmente, são o que se podem chamar, verdadeiramente, de imorais.

Perspectiva, as mais sombrias para o dia de amanhã. As coisas não andam boas, não. O brasileiro, que sempre foi subalimentado, raquítico, faminto, está fadado a ser o único povo do mundo que o transcorrer do tempo não o faz progredir nesse particular. Pelo contrário, regride, pois a cada dia que passa, maiores são as suas dificuldades. Culpa de quem? Do autor destas linhas, por certo não serão. Nem do Baltazar do Corinthians, nem dos motoristas de praça.

Gritar não adianta – disseram-nos outro dia. Bem o sabemos. Já temos a experiência própria, de que espernear nada vale. O remédio é pagar e “não bufar”, conforme diz o conformado caboclo.

“Está tudo errado”, dizia ha pouco o Dr. Aniz Badra. E está mesmo.

Os nordestinos continuam a chegar, nos chamados “pau de arara” e ficam a mercê da própria sorte, dormindo nas vias públicas, pedindo para comer. A política anda mais confusa do que o ataque da Ferroviária de Botucatú – ninguém entende nada, porque os próprios “jogadores” também não se compreendem entre sí, não sabem o que querem.

Enquanto isso, êstes Brasis vão caminhando para o mais tenebroso cáos econômico que nos dá conta a própria história.

O povo, hoje em dia, chega a ser “marionete”, dançando em cordéis manejados com amestría por um pequeno número de “bons” brasileiros.

E “viva a valsa”!

Só nos resta um consolo: apertar o cinto...

Extraído do Correio de Marília de 07 de setembro de 1956

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