As “broncas” do Carlos Lacerda (18 de outubro de 1956)


Em outras ocasiões, escrevemos alguma coisa acerca do irrequieto deputado-jornalista Carlos Lacerda. Comentamos a verdadeira crise política criada pelo citado parlamentar, sua “fujida” para os Estados Unidos e a celêuma e inquietação que causou seu malfadado manifesto.

Aliás, nada dissemos de novidade, apenas comentamos, aquilo que acontecera e estava acontecendo e que é do inteiro domínio público.

Sem razões, algumas pessoas não gostaram do que escrevemos, quando em verdade não estávamos descobrindo a lei da relatividade ou colocando em pé o famoso Ovo de Colombo.

Mas acontece que o sr. Carlos Lacerda [Carlos Frederico Werneck de Lacerda, foto (Vassouras/MG, 30 de abril de 1914 + Rio de Janeiro, 22 de maio de 1977), foi escritor e político brasileiro, membro da União Democrática Nacional (UDN), vereador (1945), deputado federal (1947–55) e governador do Estado da Guanabara (1960–65). Fundador em 1949 e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa] está empregando mal sua grande inteligência. Só para os elementos pertencentes ao “Clube da Lanterna” seu chefe procede direito. De um ou outro modo, o homem procura criar discórdia entre os brasileiros, mesmo que possam surgir consequências imprevisíveis, mesmo que possa haver derramamento de sangue; o que importa, é que prevaleçam seus pontos de vista. É bem verdade, que o sr. Lacerda está usando de um direito legal, de expressar seu pensamento, direito êsse garantido pela Constituição. Mas o homem, que já excedeu bastante, continua exagerando, quando pensamos que poderia ser mais comedido na exteriorização de suas idéias. Carlos Lacerda não gosta de ser atacado, quando êle é o primeiro a atacar, inclusive os poderes constituidos, Ministros de Estado e Fôrças Armadas!

Não vamos discutir pormenores de política, porque confessamos sem pejo, que nada entendemos de muitos manobras escusas que se praticam por aí, sob o rótulo de política.

As consequências de sua volta ao Brasil, com sua intempestividade característica, já principiaram a surgir. Todo o mundo sabe disso. Tôda a imprensa noticia o que acontece com o homem. Portanto, que ninguém venha a censurar-nos, por apreciarmos nesta coluna a atitude que reputamos errada e condenável do sr. Carlos Lacerda.

Segunda-feira última, por ocasião de seu primeiro discurso na Câmara Federal, o homem já tumultuou a sessão e por pouco não foi alvejado, quando xingou da tribuna, alguns militares e civis, de traidores. Vejam bem, que o sr. Carlos Lacerda, que tanto fala em democracia, está confundindo o vocábulo com a palavra “anarquia”. Todo excesso é prejudicial. Todo abuso tem as suas consequências.

Êsse homem poderia ser um grande líder, uma das grandes reservas políticas do país. Se tivesse outros modos de agir. Se fosse mais sensato, como muitos parlamentares e homens de responsabilidade. Carlos Lacerda criou um mito; o mito do “diz porque não tem medo. Não somos profetas. Nem estudiosos dessa matéria. Mesmo assim, nossa razão e bom senso acusa: se o homem não mudar o sistema de ações, a história do futuro poderá, fatalmente, responsabilizá-lo por maiores consequências políticas em prejuízo de nosso povo.

Oxalá estejamos enganados.

Extraído do Correio de Marília de 18 de outubro de 1956

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