Casa para a mulher aleijada (17 de outubro de 1956)

Redação de um jornal, embora pareça uma coisa desagradável para os estranhos, é um ambiente gostoso para os que labutam na imprensa. Papéis em desalinho, originais, provas, clichês, anúncios, correspondência e órgãos da imprensa de quase tôdas as partes do Brasil, além da impregação do cheiro forte de tintas e do barulhos das máquinas, são as características de uma redação do interior, quase sempre ligada diretamente a oficina de trabalhos.

E aquêles que militam na imprensa interiorana, essa pobre imprensa cabocla, nem sempre bem compreendida, sentem uma felicidade extrema numa sala de redação. É que sempre há alguma coisa para fazer, sempre há algo para comentar-se. E as palestras entre os membros mais assíduos, tomam um aspecto agradabilíssimo, cordial, de inteira fraternidade.

No sábado último, “batíamos um papo”. O autor destas linhas, o Anselmo, que é o mais simples e humilde de todos os gerentes de jornais, o ver. Álvaro Simões e o companheiro Lauro Vargas. Só faltava o João Jorge.

E no trivial das conversas comuns, diversas e multiformes, o reverendo nos contava que tendo ido à Prefeitura, para fins particulares, lá encontrara u’a mulher de meia idade, apoiada n’ua muleta. Pobre, viuva, mãe de dois filhinhos menores. Conversando com a referida senhora, ficara inteirado do motivo de sua visita à Prefeitura: quer construir uma casinha para morar, para abrigar sua família. E o fato tocante, é que a referida senhora, que não conhecemos e que o reverendo também não conhece, tendo-a visto apenas aquela vez, dá um exemplo magistral de honradez: ganha o pão de cada dia para ela e seus filhinhos.

Se fôsse uma pessoa de outro timbre de espírito, estaria por aí, perambulando pelas ruas da cidade e estendendo a mão à caridade pública. Mas essa mulher, não. Ela trabalha. Agora, está pedindo; ou melhor, dirigiu-se ao sr. Prefeito, para pedir. Para pedir alguma coisa, a fim de construir sua casinha, visto que alguém, na cidade, dera-lhe um terreno para a construção da casa.

Em data de ôntem, o reverendo abordou o assunto. E fê-lo, como sempre: com simplicidade, procurando relatar a verdade em todos os seus ângulos e reais aspectos. Pediu aos marilienses que podem, que auxiliem essa nobre e infeliz criatura, a conseguir o seu intento, que é modesto e do qual já tem meio caminho andado, uma vez que possui o terreninho.

O apêlo foi lançado, e, temos a certeza, há de encontrar guarida no coração dos marilienses, que sempre souberam dar apôio às causas nobres e humanitárias. Não haveria necessidade de virmos nós reforçar o pedido lançado pelo reverendo, mas, mesmo assim, achamos de bom proveito reiterar o pedido dêsse nosso colaborador.

Assim, aquêles que desejarem auxiliar a boa mulher, poderão fazê-lo, comunicando-se com o reverendo Simões ou trazendo suas colaborações à nossa redação. Qualquer coisa: dinheiro, madeiras, telhas, cal, cimento ou outros utensílios necessários para objetivação dêsse fim.

Extraído do Correio de Marília de 17 de outubro de 1956

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