Homens, vamos usar saias? (24 de outubro de 1956)

Um cidadão, demonstrando confrangimento pelos atuais trajes masculinos, entendeu de proceder radical transformação nas indumentárias dos homens. Entendeu e veio a público externar a idéia, em sua inteira prática. Fez uma demonstração nas ruas de São Paulo, tendo inclusive prejudicado o próprio trânsito.

O homem inventou o “new look” masculino: camisa de náilon, saia, chapeu leve e meias do tipo usado pelas bailarinas! Sapatos também tipicamente femininos!

Alega o idealizador dessa “maravilha”, que os atuais trajes masculinos são descômodos, extenuam, custam caros, etc.. Justifica, a seu (modo) as “conveniências” do novo tipo de roupa para homens. E são muitas; assim como êsses remédios que os “camelots” vendem na rua: tem incontáveis finalidades.

Quando tivemos conhecimento das primeiras informações a respeito, não ligamos importância ao fato. Depois, tentamos inteirar-nos melhor do andamento das coisas, quando o cavalheiro decidiu-se e levou a efeito a demonstração pública dos trajes por êle preconizados. Ficamos em dúvida, quanto ao seu gesto, à sua coragem: será louco? estará certo?

Que haveriam de pensar ou dizer, os nossos auteros avós, aquêles homens que sempre se jactaram do sexo, dos quais, um fio de barba valia mais do que um documento passado em cartório e sôbre quem qualquer suspeita quanto à masculinidade, significava a assinatura de um atestado de óbito?

O que pensariam nossas avós, que tanto respeito e confiança depositavam nos maridos e filhos, se tivessem que enfrentar, nos dias de hoje, semelhante problema?

Pois o apologista da idéia vai levando avante o projetado. Está tentando arregimentar a legião de seus fãs, a fim de introduzir, em definitivo, entre nós, a inovação referida.

Enquanto uns chamam de louco ao homem que tente apaixonadamente defende(r) o ponto de vista de trajes femininos para os homens, outros já principiam a aderir ao movimento. Felizmente, o número dos segundos é pequeno, e, ao que parece, de loucos também.

O idealizador dessa barbaridade, tem a esperança que muito em breve, todos os homens do Brasil usarão sáias. Pelas suas expressões à imprensa paulistana, os alfaiates terão que mudar de profissão. O número de costureiras aumentará na certa.

Isso até nos faz lembrar uma anedota atribuída a um internado no Hospital Franco da Rocha, que, falando a um grupo de visitantes, assim se expressou: “nem todos que aqui se encontram são loucos; e nem todos os loucos estão aqui”.

Uma coisa é certa, cá para nós: Vai ser uma “gracinha” ver um homem gordo, barrigudo e careca, fumando charuto e de sáia! Ou será que terão os homens também que rapar as pernas? Sim, pois o “modelo” apresentado é de sáias curtas (altura dos joelhos) e as meias de bailarinas (tipo redes de pescaria) não farão nenhum realce nas pernas cabeludas dos “barbados”!

E com(o) se arrumarão os homens magros e altos, de pernas finas e tortas?

Bem, a respeito, já firmamos o nosso ponto de vista: Haveremos de ser os últimos a usar o “new look”...

Extraído do Correio de Marília de 24 de outubro de 1956

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