Irretorquível contraste (11 de outubro de 1956)

Sempre dissemos que não entendemos patavina de política, principalmente muita coisa que se processa por aí sob êsse nome. Em política financeira, então, somos “analfabetos” – se é que se póde usar tal têrmo. De finanças só sabemos espremer o que ganhamos o(u) fazer uma ginástica dos diabos, para equilibrar, no fim do mês, a “receita” e a “despesa”. Mas não ha dúvida, que no Brasil, a política econômica anda de mal a pior. Com excessão no Estado de São Paulo, diga-se de passagem. Graças ao tino econômico do atual Governador, ressalte-se sensatamente.

Existe, a êsse respeito, um contraste tremendo, entre a política econômica da União e do Estado líder. E é a êsse respeito que vamos falar.

São Paulo, como é do conhecimento de todos, já elaborou seu orçamento para o próximo ano. O Estado que é o coração do Brasil, vinha ha muitos anos, arrastando “déficits” sobre “déficits”, num perfeito atestado de desequilíbrio financeiro. Agora, prevê um “superávit” considerável. Para aqueles que pensam com razão e que não alimentam paixões políticas, mas que encaram as circunstâncias como de fato elas são, o motivo representa um orgulho. Um orgulho, porque traduz uma orientação financeira sadia, efetiva e indiscutível. Hoje nosso Estado já compra pagando à vista e gozando descontos.

O Sr. Jânio Quadros, dentro dessa sua linha política, confia bastante em seu Secretário da Fazenda, o Sr. Carvalho Pinto. E os dois homens, em comum identidade, têm, até aqui, procurado fazer um perfeito controle das finanças do Estado. Ninguem pode negar isso.

Já o mesmo não acontece na União. O Presidente da República, que a imprensa e seus adversários políticos apelidaram de “eterno viajante”, “judeu errante”, etc., não para no Catete. O homem é, sem sombra de dúvida, o Presidente que mais viaja, desde que somos república. Temos a impressão de que as verbas de representação que dispõe o Chefe da Nação são insuficientíssimas, antes as despesas que realiza em verdade, com tantas e tantas viagens. Por seu turno, o responsável pelas da União, o Ministro José Maria Alkimin (foto), de cuja administração anda muita gente dizendo “cobras e lagartos”, ao que parece, não está bem desincumbindo a espinhosa missão. Pelo menos, segundo se percebe, acaba de dar um exemplo considerado por alguns, até pejorativo. É que o Sr. Ministro da Fazenda viajou agora para o exterior. Vai tomar parte em inúmeras conferencias, como representante do Brasil. Muita gente anda pondo em dúvida a capacidade dêsse homem público, para discutir diversos assuntos que serão focalizados desses conclaves internacionais. Isso, no entanto, não importa. O que importa, é que o Ministro da Fazenda levou a família toda. Só deixou, ao que consta, os animais caseiros de sua propriedade. Mulher e filhos foram juntos. E secretários. E ajudantes. Enfim, um batalhão. Com verbas fabulosas de representação, traduzidas em milhares de dólares. Trabalho ou passeio? Não sabemos. O que sabemos é que não nos cheirou bem a comitiva familiar de um Ministro de Estado, para representar o Brasil em assembléia internacional, em paises estrangeiros. Se, para nós, humildes “escribas” do interior, causou espécie o gesto, o mesmo deve ter significado para a gente de fóra.

Fazendo-se um paralelo comparativo entre o Presidente da República e o Ministro da Fazenda e o Governador de São Paulo e seu Secretário da Fazenda, temos de convir que existe mesmo, nesse sentido, um gigantesco contraste.

Nada como o tempo, para dizer ou contradizer afirmativas ou pontos de vista...

Extraído do Correio de Marília de 11 de outubro de 1956

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