O “padrão” do nacional (23 de outubro de 1956)

Temos escrito, inúmeras vezes, artigos apreciando o espírito nato do brasileiro; muitas ocasiões, pelo lado real, embora possa parecer que abordamos o ângulo depreciativo do nacional, isto é, de nós próprios, porque falamos em tese.

A verdade é que muita coisa existe errada por aí afora. Enquanto um daquêles, que, de uma ou outra forma, tem responsabilidades governamentais, dá um exemplo exuberante de patriotismo e amor pelo Brasil e por sua gente, dezenas e centenas de outros pensam mais com o estômago do que propriamente com o coração.

Certa ocasião (não faz muito tempo), conhecemos na Capital Federal, um cidadão. Um conhecimento casual, como muitos que sucedem por aí com quase todos nós. Uma conversa sem importância e meramente formal, foi o início da meada de um entendimento que firmou-se em amizade à primeira vista. O rapaz quis saber coisas acerca de Marília, cidade de quem há tempos ouve dizer maravilhas. E nós, como marilienses (bairristas, mesmo), ficamos à vontade e até um tanto eufóricos, para falar de nossa cidade.

Conversa vai e vem, ficou nosso amigo inteirado de nossas atividades aqui em Marília, ao mesmo tempo que ficamos sabendo de seus labores e “virações” na bela São Sebastião do Rio de Janeiro. Não temos nada com a vida de ninguém, e, muito menos com a dêsse homem que ficamos conhecendo por acaso. Mas, referimos o fato para ilustrar e reforçar o ponto de vista que será abordado neste comentário. O rapaz possui um escritório comercial (contabilidade e representações), em pleno centro. E tem mais um “bico” também. É membro da famigerada COFAP. Ganha nesse autêntico sindicato de “tubarões”, seus doze mil cruzeiros mensais. Trabalho? A, sim: toma parte numas oito ou nove reuniões por ano!

Não pudemos censurá-lo não é êle e não será o único. Foi convidado por um “cobrão”, para integrar o organismo. E aceitou, é lógico, pois não é bobo e todo mundo gosta de “moleza”.

Agora, vem do norte um exemplo dessa natureza. Uma coisa revoltante, sob o ponto de vista de brasilidade. Um fato que é passível das maiores condenações: Um deputado estadual, apresentou na Assembléia Legislativa, um projeto de lei “sui gêneris”. Visa garantir a “mamata” dos deputados que não conseguirem reeleição no próximo pleito! Se aprovado o aludido projeto, todos os parlamentares não reeleitos, serão automaticamente “encaixados” no funcionalismo, com os vencimentos do padrão “Z”!

Não precisamos comentar mais nada a respeito. Os leitores que tirem suas próprias conclusões acêrca do fato.

Extraído do Correio de Marília de 23 de outubro de 1956

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