País de aumentos (20 de outubro de 1956)

Não resta dúvida, que temos hoje em dia muitos políticos teimosos e que pretendem encobrir o sol com uma peneira. Das duas, uma: ou são ingênuos demais, ou incompetentes em excesso. Ou então pensam que o povo brasileiro é mais ignorante do que parece.

O Brasil de hoje está longe de ser aquêle com que sonharam nossos avós, aquela Pátria altaneira e independente, o Brasil Gigante que nos conta a maravilhosa letra do Hino Nacional. O Brasil é um país de aumentos. Aumentos de taxas, aumentos de contribuições, aumento de impostos, aumentos de tarifas e ensaios e mais ensaios de novos aumentos, provando, até agora, que o Govêrno Federal e seus auxiliares imediatos – muitos dos quais completamente ineptos –, estão apresentando a pior fase governamental que o Brasil chegou a possuir desde a sua descoberta.

Só não aumenta a vergonha, a vontade de trabalhar. Há pouco, um Ministro de Estado do Brasil, teve a desfaçatez e a insinceridade de afirmar, nos Estados Unidos, que a situação econômica de nosso país é sobremaneira lisonjeira!

Queira ou não, o programa do atual Govêrno vai se desenvolvendo de maneira a dificultar cada dia que passa, mais e mais, a vida dos brasileiros. Por ocasião de sua campanha eleitoral, o sr. Juscelino Kubitschek prometeu ao povo, dias melhores e mais humanos. O Brasil, que deveria progredir cinco anos em cinco meses, conforme prometeu o então candidato, torna-se cada dia mais difícil, quando o povo arca dia a dia com uma nova série de desgostos, penúrias e dificuldades, decorrentes do “modus vivendi” que é uma conseqüência direta, um reflexo irretorquível do atual estado de coisas.

Os preços alteiam dia a dia, sem que o Govêrno nada faça. Os sindicatos da fome aumentam também dia a dia. A COFAP e a COAP, são magistrais arapucas, criminosos órgãos que estão distante de suas reais finalidades.

Ao lado de tanta miséria, tanta calamidade, entendem os homens dos govêrnos de criar ainda mais dois Ministérios. Serão dois novos órgãos de todo perfeitamente indispensáveis. Só uma coisa trarão para nós: O Brasil será o país recordista em organismos dessa espécie e a situação se agravará ainda mais, com a oneração dos cofres públicos, em consequência do exército de novos servidores que comporão mais êsses dois corpos.

A população já não mais sabe para quem apelar nessa emergência, nessa situação deveras sacrificiosa, incrivelmente vergonhoso.

É por isso que se prepara agora a infame lei da rolha; para arrochar, para amordaça, impedindo ao povo de gritar, através da voz soberana, nobre e independente da imprensa livre, nobre e honesta.

Extraído do Correio de Marília de 20 de outubro de 1956

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