Deputados e deputados (17 de janeiro de 1957)

Não se pode censurar o brasileiro, especialmente o caboclo do interior, quando desacredita dos políticos dos nossos dias. Salvo raras exceções, ser político, no Brasil, é carregar sobre os ômbros a balda de uma série de defeitos, compreendidos desde acôrdos escusos até a desonestidade.

O povo brasileiro, semi-analfabeto em sua maioria não poderia mesmo pensar de outro módo, tantos são os exemplos contundentes e de baixa estirpe moral que presenciamos continuadamente. Muita gente acredita, que ser político e ocupar um cargo eletivo, é ser especialista em dizer desaforos. Não podem ser condenados aqueles que assim pensam. Não podem e não devem. São tantos e tão marcantes os exemplos que vemos a êsse respeito, que até nós, que, embora não sendo lá muito cultos e nem tampouco semi-analfabetos, somos forçados, muitas vezes a pender para o lado da maioria das opiniões.

Acaba a Assembléia Legislativa de dar mais u’a mostra daquilo que acontece à miude nos parlamentos nacionais: no último dia 10, engalfinharam-se deputados paulistas, em plena sessão, como moleques de rua! Trocaram sopapos a valer. Como sempre, a turma do “deixa disso” entrou tarde. Como sempre, a repercussão no seio da opinião pública foi das piores, das mais desfavoráveis.

Deputados eleitos pelo povo, vencendo polpudas somas mensais, faboulosos “jetons”, grandemente engrossados nas sessões extraordinárias, fazem seguidamente demagogia barata e discutem histericamente, enquanto o povo está quase passando fome.

Demagogia, demagogia, demagogia. É só o que sabe fazer a maioria dos deputados paulistas.

As tradições augustas da assembléia bandeirante vivem atualmente enlameadas. Os que lançam tanta lama no parlamento, foram exatamente aqueles que ludibriaram a boa fé pública, desde o início de suas campanhas políticas.

Tudo já aconteceu na Assembléia Estadual. Tudo. Conchavos de conveniências; acertos políticos dos mais sórdidos; demonstração patente de saciamento de apetites políticos e pessoais; votação de projetos inconstitucionais; recebimento de propinas para votar leis de benefício de grupos, em detrimento da maioria; corpo a corpo; manobras das piores espécies; difamações; desunião de partidos; votações “à lá Zatopeck” de aumentos dos próprios subsídios; oposições aos governos, quando deveriam estes ser auxiliados; defesa dos governos, quando deveriam ser combatidos; gritos; insultos; desavergonhadas brigas e engalfinhamentos; demagogias e mais demagogias, antes de tudo e sobretudo; apadrinhamentos; empreguismo; protecionismo; filhotismo político; inquéritos administrativos dentro da própria Casa; solicitações periódicas da Justiça para processar parlamentares; e muitas coisas mais, verdadeiramente vergonhosas, incrivelmente baixas!

Existem exceções, repetimos. Poucas, desgraçadamente.

Extraído do Correio de Marília de 17 de janeiro de 1957

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