Fernando de Noronha (26 de janeiro de 1957)

A ilha nordestina esteve muito tempo abandonada; serviu no passado de verdadeiro paraiso de cóbras, causando medo em muita gente, pela enorme variedade de ofídios venenosos que alí proliferavam.

Depois, principiou a ser habitada. O sr. Getulio Vargas aproveitou a região para transformar a ilha em presídio político. Muita gente alí cumpriu penas processuais e não processuais.

Hoje em dia, Fernando de Noronha deixou de ser um Butantã extra-oficial e deixou tambem de ser um presídio. Muita gente vive na ilha; algumas pessoas que alí cumpriram penas, decidiram viver em Fernando de Noronha, quando tinham condições de radicar-se em outros pontos da Pátria. Isso só, poderá dar uma idéia de que a ilha oferece as suas vantagens para alí viver-se.

Não ha muito, uma revista especializada, procedeu ampla reportagem acerca de Fernando de Noronha, sua vida e sua gente. Abordou a extinção das prisões e focalizou a vida dos ex-convictos e suas famílias. Ilustrou a reportagem com vistas pitorescas e as pescas abundantes de Fernando de Noronha.

Quando tudo parecia normal, a ilha volta novamente ao cartaz. Sua situação estratégica interessou aos norte-americanos, como um provavel posto de foguetes teleguiados.

A notícia surgiu como uma verdadeira “bomba” no seio da maioria dos brasileiros. Opiniões das mais desencontradas, especialmente entre o “zé povinho”, vieram à baila. Disseram tantas e tantas coisas, que a maioria dos nacionais não foi capaz de formar, conjuntamente, uma opinião correta e confiante.

Estaria certo ou errado o Brasil? Aqueles que achavam que o govêrno Kubitschek deveria concordar, não dispunham de elementos para corroborar o ponto de vista; outros, que manifestavam-se contrários ao acontecimento, igualmente não éram capazes de apresentar argumentações irrefutáveis.

Realizaram-se conchavos, estudos, demarches. E o Governo brasileiro cedeu. Não houve imposição dos norte-americanos. Apenas solicitação. A ilha não foi doada aos Estados Unidos, o que é principal.

Se, no passado, cedemos em Natal, terrenos próprios para que os americanos construíssem a maior base aérea até então existente em território brasileiro, por que não poderíamos permitir agora, a instalação desse posto de foguetes teleguiados? Não houve uma excessão anterior? E na primeira oportunidade as circunstancias éram outras; estavamos no estado de guerra e não tínhamos provas concretas da fidelidade norte-americana. Agora já temos a experiência. Se os governos, as autoridades militares e os legisladores, que têm maior responsabilidade do que nós, que tem, mais do que nós, a obrigação de estudar a questão com fundamento e base e que já conhecem o passado, de certa forma idêntico, por que, nós, os do interior, iremos manifestar opiniões contrárias a respeito?

Sòmente para aquêles que ainda não estão bem esclarecidos: o Governo brasileiro não doou a ilha a ninguem e não foi obrigado a cede-la; apenas atendeu a uma solicitação, encarando, acima de tudo, temos a certeza, os interesses nacionais.

Extraído do Correio de Marília de 26 de janeiro de 1957

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