Imigrantes (29 de janeiro de 1957)

Inúmeras ocasiões, temos nos ocupado nesta coluna, de mencionar êrros clamorosos praticados pelo serviço especializado de selecionamento de imigrantes europeus para o Brasil.

Temos citado exemplos frisantes e feito comparações com os imigrantes do passado e do presente. Com aquêles que aqui vinham para trabalhar e engrandecer o Brasil e com êstes, que vêm vender casimiras e bujigangas, trabalhar em teatros e alguns, tem sido julgados até invertidos sexuais.

Aquêles que nos acompanham, estão melhor aquilatados para perceber o nosso ponto de vista. Para confirmar aquilo que vimos dizendo há anos, transcrevemos abaixo o seguinte telegrama:

“RIO (Argus-Press) – Procedente de Gênova, chegou o “Anna C”, com numerosos imigrantes para o Brasil. Verificou a reportagem que muitos dêles são da classe de imigrantes espontâneos, isto é, mandados vir pelos parentes que aqui residem. Mas outros viajaram graças ao trabalho de seleção que fazemos nos portos de origem em colaboração com o CIME. Têm passagem e estadas pagas e sua colocação no Brasil fica a cargo das nossas autoridades.

Naturalmente, os leitores pensam logo que estamos diante de nova e util remessa de operários especializados. Mas, vejamos alguns dêsses imigrantes que o Instituto Nacional de Imigração quer colocar.

QUE IMIGRANTES!

Vicenzo Calagrese, de 24 anos, é italiano, decorador de profissão. Ao reporter, disse ser marceneiro, mas na sua ficha esta “ceramista-decorador”. Gaetano Arc, de 44 anos, veio de Roma e é alfaiate. Savatore Figucci veio de Nápoles, tem 35 anos e é motorista-naval. Zissis Georg Arvanitis, grego, de 26 anos, é cortador de roupa. Alfredo Torrisi é soldador, não se sabe de que. Gunther Friederich Hoffman, de 22 anos, veio da Suiça, e é tipógrafo. De Alexandria vieram Aldo Piccolo, de 30 anos, mestre, de obra, e Vicenzo Cavallere, de 47 anos, tratador de cavalos, fugiram ou foram expulsos do Egito.

Não faltou à lista um apátida. Trata-se do sr. Varouvr Archeg Kurkdjan, de 45 anos, diverciado, turista. Veio com duas filhas e vai residir na rua Artur Bernardes, 49, ap. 403. Procede do Cairo, tem mil dólares para passar três meses no Brasil, com “visto” temporário. Sendo apátrida, para onde irá, terminados o dinheiro e o prazo?”

Por aí, verificarão os leitores que tínhamos as nossas razoes, quando censuramos as deficiências dêsses trabalhos e a inépcia e imperfeição dos funcionários brasileiros, que recebem dos cofres públicos, polpudos vencimentos, para desservir o Brasil.

Extraído do Correio de Marília de 29 de janeiro de 1957

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