Menores Abandonados (3 de janeiro de 1957)

Cria corpo, mais do que nunca, presentemente, o problema de auxílio público e particular, ao menor abandonado no Brasil. Em todos os quadrantes da Pátria, principalmente nas grandes cidades e grandes capitais, procura-se incrementar êsse humano movimento.

Em Marília, tal problema já pode ser praticamente considerado contornado, graças às instituições “Lar da Criança” e “Associação Filantrópica de Marília” . A primeira acolhe às orfãzinhas e a segunda abriga os órfãos.

Com o intuito de colaborar com a questão especialmente para aquêles que nesta hora se dispõem a solver tão angustiante problema nacional, transcrevemos abaixo, o artigo “ Menores Abandonados, Capital Perdido” , de autoria do dr. Dutra Oliveira, da Academia Nacional de Medicina:

“Podemos considerar a Nação como uma sociedade adstrita à sua população; valerá em função de seus habitantes. E, daí a cautela no sentido de uma escolha científica de elementos trazidos pelas correntes imigratórias ou na proteção às crianças, constituindo-se uma população com elementos próprios. Não é outra a orientação daquêles que procuram constituir rebanhos; esta prática é notória e essencial. Mas, se um criador deixasse de estabelecer certos cuidados ver-se-ia arruinado, pois que, subordinar-se-ia a uma alta mortalidade ou à degeneração da raça. Já vimos a alta percentagem da mortalidade infantil entre nós, desfazendo o alto coeficiente de nascimentos. Ora, a Nação constitue seu capital à custa dos elementos humanos. Já houve tempo que se atribuía a uma criança recém-nascida o valor de 16 mil cruzeiros; êste valor cresce com o seu desenvolvimento pois que, ela representa uma elemento de produção, um capital. Sendo isto verdade, poderemos ajuizar o prejuízo anual do Brasil. Em certo período sabíamos que perderíamos, até aos 15 anos, seca de 50 por cento dos que nasciam vivos; isto significaria um prejuízo de 10 biliões de cruzeiros. Não é de espantar quando sabemos que nos Estados Unidos, são dados os seguintes valores: crianças de 0 a 2 anos, 23 mil cruzeiros; de 2 a 15, até 86 mil cruzeiros. Não nos espantemos, pois que, mesmo entre nós, valores enormes foram dados por bezerros zebus ainda por nascer. Mas se os criadores perdessem seus produtos na proporção em que perdemos nossas crianças, só lhes restariam o caminho da falência. Há um fato grave em relação à connstituição de nossa população, que representa um lastro de nossa evolução. Sendo grande o coeficiente de natalidade, o que significa composição de um capital, o alto coeficiente de mortalidade significará prejuízo. E não só isto. A mortalidade continua alta até aos 16 anos, possivelmente como resultado de condições alimentares viciadas e que conduzem à má constituição orgânica, à falta de defesa. Resulta, afinal, ser a vida média variável; assim é ela de 43 anos no Rio, de 49 em São Paulo, de 61 nos Estados Unidos e de 69 na Holanda. Fácil é se compreender o desfalque sofrido por nós, uma vez que nos vemos privados de elementos justamente quando deveriam produzir. Tudo aquilo que se gastou para a criação, manutenção, estudos, e etc., tudo isto desaparece, com grave dano para as famílias e pra o Estado. Quando devêssemos ter uma magnífica floração, uma época econômico-produtiva, sobrevêm o caos, o esfacelamento. E corremos, então, em busca da colonização estrangeira, que tanto nos custa. Já alguém perguntou a razão desta preferência, pois que deixamos de cuidar daquêles que nascem aqui. É êste um problema que vem sendo posto aos nossos estatistas e que, em verdade, tem merecido certa atenção. Os dados atuais dão disso testemunho; mas há muito que fazer, justificando a necessidade de se proteger as crianças que nascem e as que crescem”.

Extraído do Correio de Marília de 3 de janeiro de 1957

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