Pílulas Carnavalescas (5 de março de 1957)

Desculpem-nos os leitores, pelo fato de mudarmos hoje, excepcionalmente, o estilo désta crônica diária. Vamos ocupar o espaço que nos é reservado pela direção do “Correio”, para narrar, alguns flagrantes acerca do tríduo carnavalesco, em pílulas, conforme estabelece a epígrafe. Vejamos:

Não tivemos, praticamente, o carnaval de rua em Marília este ano nas noites anteriores, e, dificilmente, pelo que parece, o veremos hoje. Nenhum “rancho”, nenhum préstilo, nenhum “cordão”, nenhum bloco convenientemente organizado.

Embora estejamos de acôrdo em que não deve o município subvencionar os folguedos carnavalescos, empregando para tal fim o dinheiro público, entendemos que pelo menos na iluminação central deveria ter sido procedida durante o carnaval.

Outra coisa que a Prefeitura olvidou, foi a instalação do palanque oficial na Avenida, como sempre fora feito nos anos anteriores. Tal realização, que nenhuma despesa efetiva acarretaria aos cofres públicos, mesmo que não servisse para acomodar as autoridades que iriam apreciar o carnaval, pelo menos teria em muito facilitado os trabalhos das emissoras locais, que irradiaram o acontecimento.

Nos clubes, os bailes das primeiras noites não tiveram o mesmo brilho do passado. Embora com bastante afluência pública, quer nos parecer que o espírito alegre arrefeceu um pouco durante este ano.

A rigor, quase não tivemos fantasias dignas de nota nos bailes carnavalescos. Poucos lança-perfume, em relação aos anos anteriores. Até os movimentos dos bares dos clubes recreativos parece que foi menor este ano. Causas? Aparentemente, só uma: falta de dinheiro.

Uma coisa é certa: imperou a disciplina, de modo geral, nestes primeiros dias de carnaval em Marília. Não vimos casos típicos de embriaguez na mesma proporção dos anos anteriores. Não vimos tambem excessos na aspiração de éter, como no carnaval pretérito. A esse respeito, pouco ou nenhum trabalho teve a polícia.

Consuelo Castilho, o conhecido “C.C.”, continua sendo o mais esforçado animador de carnaval de rua. O rapaz faz o que póde. Brinca quase que inocentemente. Este ano saiu com uma gigantesca borboleta e com o tradicional boi.

Muita afluência registrou o Yara Clube. A causa deve ser motivada pela cobrança ascessivel de ingressos e pelo grande espaço de seus salões.

Nas primeiras noites, os bailes mais desanimados deste ano, foram os da Associação dos Alfaiates e do “Kai Kan”.

Democraticamente, o Dr. Helio Negreiros Penteado, Delegado Regional de Polícia, identificou-se entre os foliões que pularam nos bailes do Tenis Clube.

Rapazes do Cordão “IV Centenário”, reclamam contra uma escola de samba que saiu pelas ruas da cidade, dizendo-se tal. Alegam que este ano o “IV Centenário” não saiu a rua...

Excelente e completo, tem sido o policiamento da cidade neste carnaval. Nas ruas, a atividade preventiva policial tem sido notada. Nos bailes, a Guarda Civil, investigadores e comissários de menores tem exercido suas atividades de modo satisfatório. Para tal, diga-se, o povo mariliense tem sabido colaborar, até aqui, sabendo comportar-se e respeitar.

A polícia proibiu o emprego de bisnagas de matéria plástica nos folguedes carnavalescos. É que ao par do uso de agua pura, que viria a ser uma brincadeira inocente, vários “marmanjões” estavam servindo-se dos ditos objetos para o disvirtuamento das finalidades.

Nos bailes infantis, vimos muitos adultos “rasgando a fantasia”. Não está certo. os marmanjos que brinquem durante a noite deixem as “matinés” para as brincadeiras inocentes das crianças.

Pirituba, o famoso baterista paulistano, esteve emprestando inestimavel concurso ao conjunto de ritmos do Marília Tenis Clube. O rapaz sabe brincar com o instrumento. Tem oferecido um verdadeiro “show” aos foliões. Muita gente tem ficado mais interessada em apreciar a arte do rapaz do que propriamente o carnaval de salão.

Outro elemento da paulicéia que tambem está colaborando com o conjunto carnavalesco do Teniss Clube é Joaquim “Sabonetão” Dias, da Rádio Nacional de São Paulo. Tanto “Sabonetão” como Pirituba vieram a Marília visitar seus familiares. E estão seguindo a risca o ditado de “enquanto descança carrega pedra”.

Extraído do Correio de Marília de 05 de março de 1957

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