Uma correspondência (6 de abril de 1957)

Com referência ao comentário de nossa autoria, publicado em nossa edição de 19 do mês passado, recebemos do deputado federal Carmelo D’Agostino, a carta que passamos a transcrever a seguir, reservando-nos a oportunidade (de tecer) outro comentário a respeito, na próxima terça-feira. Eis a íntegra da citada correspondência:

“Câmara dos Deputados.
São Paulo, 22 de março de 1957.
Ilustríssimo Senhor.
Lí seu artigo no glorioso “Correio de Marília” de 19 do corrente, e notei que, entre o que muito me lisonjeou, elogios a minha conferência, o que muito me lisonjeou, mòrmente porque partidos de tão brilhante jornalista, fêz o eminente amigo uma observação quanto a minha assiduidade na Câmara Federal.

Permita ponderar-lhe, contudo, que minhas falta àquela Casa do Congresso não são de maneira a merecer censuras, pois tôdas as semanas, malgrado as ocupações bancárias, permaneço no Rio de Janeiro por dois ou três dias em cumprimento das obrigações parlamentares.

Não me dedico, é claro, a atividades meramente políticas; a Tribuna da Câmara uso-a para pronunciar discursos que realmente interessem à nação, muitos dos quais, por sua transcendência, têm sido publicados, parcial ou integralmente, em jornais e periódicos de São Paulo e do Rio; quando não, ocupo-a para reivindicar causas e projetos de conveniência social e econômica à coletividade.

Presentemente, “verbi gratia”, preparo um discurso sôbre o intercâmbio mundial, que diz respeito aos esforços do “Itamarati” no que concerne à união continental, para fazer face à política européia, pois que esta se voltou integralmente às suas colônias, alimentando-as com os capitais do “Plano Marshal”, a fim de incentivar a produção dos artigos que hoje são comprados na América do Sul com reflexos já desalentadores aos nossos produtos, principalmente o café, que já vem de ser cultivado pela África e Ásia, em cêrca de 60% do consumo total do “Velho Mundo”.

Essas e outras coisas, de real interêsse para nosso país, têm sido objeto de minha atuação na Câmara, sem preocupações puramente políticas e de aparato pessoal. Sou, ainda, colaborador em dois jornais de São Paulo. Em meus artigos (dois por semana), tenho-me empenhado em propugnar pelas coisas públicas, em prol da moralidade econômica e administrativa.

Perdôe o possível exotismo dêste homem público que não quer tratar de política; em nossa terra, no entanto, – V. Sa. há de convir comigo – a palavra “política”, de sentido tão nobre quanto à origem, tem sido empregada mais com um significado de caráter pessoal e egotista, do que, pròpriamente, público e social, como deveria ser.

Em suma, devia-lhe êsses esclarecimentos em desencargo de minha consciência, como parlamentar e como representante também (embora indiretamente) da grande Marília, cujo povo, gentil e hospitaleiro, em tudo se aprimora, desde a produtividade de seus campos e fábricas, até às atividades sociais, com modelares escolas, hospitais e asilos, tudo, enfim, forjando o progresso, através de um espírito de cultura e grandeza de sentimentos.

Do amigo e patrício que o abraça agradecido e a seu dispor,

C. D’Agostino”

Extraído do Correio de Marília de 6 de abril de 1957

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