Vergonha moral do Brasil (9 de abril de 1957)

Continuamente temos referido néstas colunas, a inauferível impureza de vergonha de muitos políticos brasileiros, mormente de grande parte daqueles que ocupam em nossos dias, cargos confiados pelo povo bem intencionado, para trabalharem em pról dos interesses dêsse mesmo povo.

E o temos feito com as melhores intenções de alertas o eleitorado brasileiro, para que póssa colocar-se de atalaia contra um grande número de mais políticos, que representam, sem dúvida, u’a mancha negra nos postulados democráticos que com tanta euforia apregoamos por aí.

Regra geral, a maioria dos políticos de nossos dias, confortavelmente acomodados nas macias poltronas dos parlamentos, não sabem, não podem ou não querem prestar sua parcela obrigatória de colaboração ao sofredor povo que aquí habita e que os guindou até tão invejáveis postos. Essa maioria não cessa de usufruir proveitos próprios, fazendo negociatas, fazendo politicagens, continuando sórdidas políticas eleitoreiras por diversos e variados processos, “auxiliando” apaniguados políticos, transformando muita coisa para pior, numa demonstração irretorquível de que existe muita falta de vergonha por êsses Brasís afóra.

Agora, por (e)xemplo, acaba de entrar em vigor a famigerada e vergonhosa “Lei dos Cadillacs”. Temos, pois, aos próprios olhos, a ensensatês, a falta de brios verde-amarelos e o pejo reprimível, da estirpe moral dos elementos que compõem uma verdadeira corja de maus brasileiros, com a autêntica corrida de interesses simplistas, para aproveitar a “deixa” e adquirir automóveis para uso pessoal, ao preço do câmbio oficial, cuja soma dêsses negócios irá representar para nossa Pátria, uma sangria de dois milhões de dollares, em detrimento do interesse da Nação!

De início, já foram encomendados cerca de 500 automóveis de luxo, de várias marcas, pelos deputados e senadores, desde a última quinta feira, aos corretores das duas firmas importadoras do Distrito Federal. Os vendedores encheram os corredores do Senado e da Câmara, oferecendo a “mercadoria” e a(s) excelentes vantagens aos parlamentares, que acudiram sequiosos e desavergonhados.

Os dois primeiros deputados que escolheram seus carros foram os Srs. Arí Pitombo e Walter Ataíde. Este, apesar de já ter escolhido seu automóvel, pretende vender o seu “Lincoln”, modelo 1956, por 700 mil cruzeiros, de vez que o novo tipo que escolheu curtar-lhe-á cerca de 200 mil, posto no Rio. Quer dizer, os próprios deputados, na compra de um e venda de outro carro, ganharão 500 mil cruzeiros, à custa dos interesses financeiros do próprio Brasil que dizem servir!

O Sr. Arí Pitombo, insurgiu-se na tribuna da Câmara, contra a imprensa sadia, vigilante e bem intencionada, que combateu o vergonhoso projéto (óra convertido em Lei), alegando que se a imprensa póde adquirir papél para seu uso, ao cambio oficial, os “defensores do povo”, com maiores direitos, pódem usufruir tais deferências! Vejam só, que explêndida argumentação tipicamente infantil dêsse deputado! Comparem, desapaixonadamente, os serviços da imprensa brasileira, em relação ao privilégio pessoal que a vergonhosa lei concede a alguns, em prejuizo dos sagrados interêsses econômicos do país, facultando um verdadeiro comércio de lucros palpáveis e extraordinários, ilegais mesmo, àqueles que, desbriadamente, se propõem a usufruir os “benefícios” dêsse anti-patriótico diploma legal!

Essa lei traduz, sem sombra de dúvida, uma verdadeira vergonha moral para o Brasil e vêm aumentar o já gigantesco descrédito que (possui) a maioria de nossos políticos profissionais!

Extraído do Correio de Marília de 9 de abril de 1957

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