Preços de medicamentos (25 de maio de 1957)

Há algum tempo, conversando com certos amigos num bar da Avenida, entre os quais se encontrava um colega de imprensa, estava êste sendo “gozado” por uma terceira pessoa, que dizia que o citado jornalista só escrevia sôbre a alta do custo de vida, quando a proprietária do hotel que habitava, elevava o preço da mensalidade da pensão.

E o rapaz confessou, na ocasião, dizendo que de fato tal era verdade, pois costumava escrever aquilo que conhecia e sentia. Tal lembrança ocorreu-nos agora, depois de termos passado, ainda ontem, por uma “escalpelada” tremenda, quando tivemos necessidade de recorrer a uma farmácia. Ficamos boquiabertos, não pela alto dos preços, que já faz parte de nossa vida atual em todos os setores, mas sim, pela proporção incrível como vem se verificando ultimamente. O farmacêutico nos esclarecia então, que as variações das drogas e medicamentos, registradas nos últimos tempos, têm batido um verdadeiro “record” em velocidade, não cabendo culpa às farmácias, que mantêm, como é óbvio, a sua natural margem de lucros. O êrro “vem de baixo”, explicou-nos o homem. Acontece, pensamos, que o êrro não vem de baixo e sim “de cima”. O descontrole tão acentuado como atualmente se verifica nas marchas aceleradas dos preços de drogas e medicamentos é uma decorrência normal de desgoverno. Um remédio corriqueiro, obrigatoriamente necessário em qualquer lar, desde o mais pobre até o mais abastado, “sobe” quase que semanalmente.

O interessante é que até aqui ninguém se lembrou em ver “in loco” essa anomalia que é uma das mais degradantes. Os preços dos medicamentos, atualmente, não acompanham aquela correria da alta de tudo o mais. As elevações do custo das drogas são procedidas “à lá Zatopeck”, num verdadeiro absurdo.

Perguntamos ao rapaz, que por sinal é nosso amigo, se existia u’a média percentual de “subidas” de preços e o nosso interlocutor, apesar de ser um bom matemático, não foi capaz de responder, tão grandes e constantes são as variações. Apenas para dar-nos o exemplo daquilo que pretendíamos conhecer, declarou que o livro de preços é alterado diariamente e com muita constância para nos ficar atrazado!

Em verdade, o assunto está a exigir as atenções de quem de direito, pois a êsse respeito a situação é insustentável. Nós podemos pagar, como muitos outros, de 600 a 1.000 cruzeiros por uma simples receita que prescreva três ou mais drogas; mas, e os que percebem o salário mínimo e têm três ou quatro filhos para sustentar, como farão?

Muito se tem escrito, por aí, que o povo brasileiro é sub-alimentado e repleto de verminoses e que é preciso construir um povo forte, para termos o Brasil forte. Como? A alimentação é um problema tremendo, hoje, não só para os pobres, como também para a classe média. O tratamento médico-hospitalar é aquilo que “come a gente por uma perna”, como nos dizia um outro amigo, que, um dia dêstes, teve que submeter a espôsa a uma intervenção cirúrgica. O médico operador cobrara 6 mil cruzeiros, fóra o anestesista e o assistente e fóra ainda as despesas do hospital. Trocando tudo em miudos, o rapaz gastou 15 mil e poucos cruzeiros, ganhando, como chefe de família, três mil cruzeiros por mês.

Isso, no entanto, é outro caso. O que está a exigir atenções, em pról do próprio povo, são os preços verdadeiramente absurdos de determinadas drogas e medicamentos, que, muitas vezes, não dão os resultados rápidos e positivos para os males que são prescritos. As farmácias, principalmente as varejistas, nenhuma culpa têm. Por isso é que repetimos. O êrro não vem de baixo. Vem de cima.

Extraído do Correio de Marília de 25 de maio de 1957

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