Um congresso fracassado (8 de maio de 1957)

Confessamos que não estivemos acompanhando o andamento dos trabalhos desenvolvidos pelos participantes do IV Congresso Brasileiro de Municípios, recentemente realizado na Capital Federal. Não acompanhamos o desenrolar desses trabalhos, pelos seguintes motivos: primeiro, porque nossa cidade fôra explêndidamente representada nesse conclave, pelos vereadores marilienses de maior expressão na luta municipalista, aos quais, como toda a gente de nossa terra, depositamos toda a confiança e certeza de bom desempenho desse mistér; segundo, porque a própria imprensa – falada e escrita do Rio e São Paulo –, foi algo restrita, para não falarmos incompleta, na divulgação dos fatos alusivos à essência dos trabalhos em curso; e, finalmente, porque tínhamos poucas esperanças nos resultados positivos e efetivos dessa assembléia, uma vez que ainda vibravam em nossa memória, os ecos negativos do Congresso de São Lourenço.

No entanto, através de uma entrevista concedida pelo Dr. Fernando Mauro, ante-ontem, ao microfone da Rádio Dirceu, ficamos inteirados de que nosso ponto de vista tinha razão de ser, no que diz respeito ao autêntico fracasso do Congresso, em consequência do dedo político, que se fez sentir nesse conclave.

E não se verificou esse autêntico fracasso, por incompetência ou falta de bôa vontade daqueles interioranos que ali se fizeram presentes. Por exemplo, das 200 teses aprovadas, 90 pertenceram a São Paulo, das quais 11 foram de Marília.

O que estragou tudo, foi a injunção política que se fez sentir, com uma série interminável de conferência, objetivando fins eleitoreiros, com as vistas voltadas para a sucessão presidencial!

Na essencia, foi disvirtuado flagrantemente o objetivo glorioso do certame. O povo do interior, os municípios em geral, que são as células vivas do próprio desenvolvimento e progresso do país, continuarão na mesma, lutando por sí próprios, como até agora tem acontecido.

É realmente de lamentar-se, principalmente conhecendo-se as lutas desse verdadeiro exército de municipalistas, que até aqui têm lutado com todas as forças, para colocar o município na sua real condição, dando-lhe o que por direito lhe é devido.

Porisso, inúmeras vezes, temos nos referido à pobresa da política nacional e a sua podridão inconteste.

Foi uma pena.

A situação desse congresso, para nós, atingiu o clímax da desilusão, porque decepcionou os nossos próprios delegados, que, embuidos do desejo de servir a causa, viram-se tolhidos nessas intenções, porque, nem todos os que compareceram ou participaram dos trabalhos diretivos do IV Congresso Brasileiro de Municípios, foram, na verdade, municipalistas!

Aos nossos representantes, a nossa solidariedade com referência à decepção sofrida, pela qual os mesmos não têm nenhuma culpa.

Aos políticos profissionais, caçadores de votos, que deturparam as finalidades precípuas do movimento, em detrimento do povo interiorano, a nossa repulsa.

Extraído do Correio de Marília de 8 de maio de 1957

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