Leitores e sua opinião (6 de junho de 1957)

Não raro, recebemos cartas de nossos leitores, apreciando ou depreciando nossos modestos escritos, sugerindo idéias ou interpelando-nos sobre determinadas questões. Nem todas as cartas pódem mesmo ser levadas em consideração; umas, porque não trazem assinatura, outras porque “metem o paú” em certas autoridades municipais, instigando-nos a patrocinar campanhas nem sempre dignas e representativas da maioria das opiniões.

Mesmo assim, damo-nos ao cuidado de conhecer os motivos originários de certos “desabafos”, que periodicamente chegam às nossas mãos. Quando procedem os clamores, a idéia não deixa de encontrar guarida em nossas intenções e preocupações de servir à cidade e seu povo e o assunto é abordado diretamente e em têrmos.

Recebemos ontem, carta de um leitor, cujo nome omitimos a pedido, chamando-nos a atenção para a verdadeira “enxurrada” de leituras do tipo “em quadrinhos”, atualmente em vóga em nossa cidade. Reclama o missivista, o tipo dessa modalidade de publicação. De fato, o Brasil de hoje vive inundado pela leitura “em quadrinhos”. As historietas são verdadeiros absurdos, sendo as fantasias de seu conteúdo alguma coisa chocante ao próprio espírito do povo, pelas aberrações e mentiras que apresentam. Por outro lado, a mentalidade infantil, não totalmente curada e pronta para receber os impactos da realidade dos fatos, deixa-se iludir pelas hipóteses incríveis contadas em tais publicações. A mente infantil empolga-se, vivendo as fantasias e os absurdos déssas historietas fabulosas.

Ha quem atribua, ser índice de delinquência infantil de nossos dias, especialmente nos Estados, a consequência diréta déssas publicações. Não vimos até hoje, nenhuma autoridade de ensino ou religiosa, recomendar tais tipos de leitura. Pelo contrário, todas as combatem.

A referida leitura, acarreta, por outro lado, conseqüências imprevisíveis; o descaso pelo gosto de leitura sadias e históricas. Talvez estejamos enganados, mas temos a impressão de que antigamente, os diversos cursos educacionais, desde o primário até o universitário, apresentavam melhor índice de aproveitamento dos alunos, colocando na sociedade gente mais capacitada. Temos visto hoje em dia, professores e contadores embasbacados ante comezinhos temas, e, apesar de ostentarem pergaminhos, apresentar um índice de cultura muitas vezes inferior ao que acontecia vinte anos passados.

É a verdadeira preguiça mental, ocasionada pelas histórias “em quadrinhos”, onde as crianças de hoje quase não leem, acompanhando o desenrolar dos fatos pelas figuras incríveis.

Sugere nosso amigo, providencias da Câmara Municipal, do MM. Juiz de Direito e de outras autoridades. Dizemos ao referido missivista que as providências nesse sentido seriam relativas, pois estas deveriam partir do Governo federal, em primeiro lugar. Sem isso, nada feito. Os interessados, caso fosse suspensa a venda em nosso município, poderiam adquirir tais revistas nos três ou nos municípios visinhos; ou mesmo diretamente na capital, pelo correio ou por intermédio de pessoas conhecidas.

Estamos com o missivista que nos escreve; infelizmente, o caso, enquanto outras providências não forem tomadas, deve ficar a critério dos pais de família e expontaneamente dos próprios professores.

Extraído do Correio de Marília de 6 de junho de 1957)

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