A Nova Capital Federal (5 de junho de 1957)

Péde-nos um leitor dêste jornal, opinião pessoal acerca da nova Capital Federal e da chamada Operação Brasília, alegando que ao par das referências pró mudança da administração federal para o centro do país, têm lido comentários de certo modo desairosos, alusivos ao processamento da medida.

Não estaríamos em condições de atender ao apêlo dessa pessoa, caso não se tivesse frizado o têrmo “opinião pessoal”. Aquí vai o que a respeito pensamos:

A mudança da Capital Federal para o Estado de Goiás, num ponto relativamente bem central do Brasil, é uma urgência que deveria ter sido posto em prática ha mais de um século passado. Desde seu descobrimento, o progresso do país têm sido marcado “à câmara lenta”, por motivos vários, difíceis de enumerar em poucas palavras. O Brasil, praticamente, resumiu-se em São Paulo, Rio, e, ha poucos anos, no norte do Paraná. Todos sabemos, que o restante dos quilometros quadrados de nossa Pátria, continua praticamente abandonado, distanciado da evolução natural e do dinamismo, ausente praticamente dos recursos exigidos pela atual época.

A capital do país centralizada no miolo da nação, por certo faria irradiar o bafejo do desenvolvimento à paragens até então quase totalmente desconhecidas.

Entendemos, no entanto, que o processamento a respeito está apresentando mais falhas do que aquelas que seriam normais em qualquer empreendimento de vulto. Percebemos mesmo, uma certa insensatez, no querer se construir uma nova capital, num abrir e fechar de olhos. O próprio governo cometeu erros sobre erros, em tal proceder. Brasília, é hoje, um fóco de inflação, com um progresso artificial, como se fôra um anuncio a “gaz néon”, adaptado à fachada de um prédio antiquado. Colocou-se o “luminoso”, sem ter sido procedida a caiação, às vezes comezinhas até. E, nessas condições, surge a nova Capital do Brasil: um amontoado de casas de madeira, em pleno sertão, onde a ligação a contento só póde ser feita no momento, por via aérea.

Confessamos que somos pouco estudiosos da questão. O que sabemos é aquilo que nos dá ciência a impressa ou as informações que nos prestaram os que alí já estiveram. Daí, tirarmos as conclusões que estamos esplanando.

Justificou, não ha muito, um grande jornalista carioca, que a inflação dominante em Brasília é consequência de que a produção e o trabalho não acompanham o desenvolvimento vertiginoso do progresso. Não estamos de acordo com esse módo de pensar, porque entendemos que nenhuma produção e nenhum trabalho, pódem, jamais, equiparar-se ou correlatar-se com um dinamismo artificial, de fachada.

A mudança da Capital Federal, a nosso ver, deveria ter sido processada gradativamente; com verbas próprias nos orçamentos anuais, devidamente aplicadas e não consumidas por milhares de funcionários pouco honestos. O traçado amplo, o asfaltamento, a àgua, o esgôto, o telefone, a luz e força, as estradas, etc., antes de tudo. Por outro lado, um freio aos monopólios imobiliários, nem sempre honestos e nem sempre comedidos em suas bases de lucros.

Não conhecemos Brasília, mas pretendemos faze-lo quando for possível. Talvez estejamos equivocados, mas acreditamos que teremos a pior das impressões, vendo naquilo que se chama a nova capital do país, um montão de casas de madeira, a ausência de recursos exigidos pela civilização de nossos dias, e, dentre o número de pessoas bem intencionadas, constarmos a presença de uma boa percentagem de verdadeiros aventureiros.

Esta é a nossa opinião pessoal acerca do assunto.

Extraído do Correio de Marília de 5 de junho de 1957

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