Abusos e mais abusos (23 de julho de 1957)

Inúmeras vezes temos reclamado através dêstes nossos despretenciosos comentários, a necessidade da reorganização da COMAP. Isto temos feito, porque, em boa fé, entendemos que tal organismo bem orientado e integrado por elementos que de fato desejem trabalhar nos diversos setores de fiscalização e controle de preços de gêneros e utilidades essenciais ao consumo público, só poderá trazer benefícios gerais à população mariliense.

Nossos pontos de vista a respeito, trouxeram até nossa redação, inúmeras manifestações; umas pró, outras contra. Não sabemos quais as que maiores razões têm. Continuamos pensando que a COMAP poderá ser uma autêntica canja de galinha – se bem não fizer, mal não poderá fazer.

Ninguém ignora a existência de impostos e certas taxas municipais aos que comerciam com frangos, frutas, etc., a fim de que possam servir a população em melhores condições. No entanto, tais preços em nossa cidade, equipara-se perfeitamente aos preços dos mais elevados centros, inclusive, em muitos casos, às próprias capitais. No Mercado Municipal e nas Feiras Livres, temos bem a prova disso. Nas ruas, pelos vendedores ambulantes, igualmente. Até por um simples mamão, paga-se em Marília a importância de 10 cruzeiros! Um pinto, mal empenado, custa em nossa cidade, de 65 cruzeiros em diante! E muitas outras coisas são assim, desnecessárias de serem enumeradas, porque todos os chefes de família sabem disso.

Como dizíamos, temos recebido manifestações divergentes acerca do assunto. Uns entendem como necessária a reorganização da COMAP. Outros pensam que tal organismo em nada beneficiará os marilienses, que, de certo modo, estão à mercê daquêles que estipulam os preços como melhor entendem, sempre, é lógico, objetivando a elevação de lucros.

De qualquer maneira, uma coisa é certa e inegável: aqui em Marília, no setor dos preços verificamos abusos e mais abusos. Ninguém até agora teve o “peito” de tomar qualquer iniciativa em pról do povo.

Uma firma comercial, por exemplo, está vendendo açúcar “União” à razão de 55 cruzeiros o pacote de 5 quilos. Se tal estabelecimento vende o produto nessas bases, ninguém venha a dizer-nos que a firma não tem a sua margem de lucros, por pequena que seja. Entretanto, o mesmo produto, em outros estabelecimentos, está sendo vendido a 68 e 70 cruzeiros, isto é, com uma diferença de 11 a 13 cruzeiros por pacote, o que equivale dizer, mais de 2 cruzeiros por unidade de quilo!

O que será isso? Milagre de um comerciante ou descontrole geral no tabelamento de preços? Poderá afirmar-se que tal firma, sendo atacadista, poderia ter adquirido o produto em grande quantidade com preços especiais. Concordamos com isso. Com o que não concordamos, nesse caso, é com a divergência de mais de 10 cruzeiros no preço do mesmo produto, em diversas casas comerciais da cidade. Mesmo considerando-se a astúcia da propaganda do comércio, mesmo tendo-se em conta as vantagens que desfrutam os atacadistas comprando em grandes quantidades por preços mais em conta, ainda assim, pensamos, a diferença está muito elevada. E isto, pelo que entendemos, é descontrole de preços. Não que desejamos que aquêle produto que está sendo vendido à razão de 55 cruzeiros, seja aumentado; mas sim que o mesmo, ao preço de 68 e 70 cruzeiros, diminua um pouco, uma vez que a desproporção está sendo imensurável e representando além de descontrole, um inegável contra-senso.

Em 1946, através dêste mesmo órgão, dissemos que Marília era “um paraiso de explorações” e quase nos fuzilaram em plena via pública, porque muitos comerciantes correram lépidos e apanharam a “carapuça”. Estaremos errados?

Extraído do Correio de Marília de 23 de julho de 1957

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