Açucar a Cr$ 7,00 o quilo (25 de julho de 1957)

Comentavamos ainda a pouco, a divergência do preço do açucar na cidade, fazendo menção de que em Marília, o mesmo produto estava sendo vendido num estabelecimento comercial à razão de 55 cruzeiros e em outras casas, a 68 e 70 cruzeiros.

Dissemos, na ocasião, que o fato nada mais éra do que o reflexo inconteste do atual estado de desgoverno em que vivemos. Não dissemos nenhuma novidade, entretanto.

Agora, novamente, torna a impor-se ao nosso dever, comentar a situação do açucar. O Brasil está exportando tal produto de primeira necessidade, a preços que representam a metade dos colocados no mercado varejista atual. Além do mais, está prenunciando a ameaça de ser o custo do produto aumentado ainda mais. Estamos, enquanto isso, exportando o açucar de primeira, à 7 cruzeiros o quilo!

O aumento pretendido, virá por certo, como costumam “vir” todas as coisas que objetivam arrancar mais algumas tiras de couro dos costados do sacrificado povo brasileiro. Os trabalhadores da industria açucareira nacional estão pleiteando aumento de salários, na base de 50%. Os usineiros espernearão, por certo, concederão um aumentozinho aos seus trabalhadores e o órgão competente não titubeará em autorizar a majoração pretendida, embora o desnivel das cifras entre o aumento dos preços da venda do produto e o acréscimo das despesas com o aumento de salários venha a ser patente e conhecido de todos, como até aquí tem acontecido. Exemplificando, a taxa das despesas com os aumentos dos salários, ficarão aquém dos lucros com o aumento dos preços, trazendo maiores benefícios para os cofres da própria industria. Isto, para não quebrar-se a “tradição” da ladroagem que por aí campeia impunemente.

Até o mais leigo em matéria de comércio sabe perfeitamente que só existe açucar exportável ao preço de 7 cruzeiros por unidade de quilo, enquanto no varejo o mesmo produto é pago a 13 e 14 cruzeiros, manda a lógica da oferta e procura, que seja barateado o produto, atendendo, pelo menos em parte as necessidades do consumo interno nacional.

Acontece que o Brasil precisa de divisas e tem que propugnar pelo incentivo do comércio de exportação. As divisas são extremamente necessárias, pois sem isso, não poderiam os senhores (fantasiados de deputados e senadores), importar seus “cadilacs” ao preço do dólar oficial, mercê de uma vergonhosa e imoral lei existente entre nós, cujo fundo é o mais impatriótico possivel.

Não conseguimos nos convencer, que não existam meios para uma baixa do açucar, uma vez que o produto exportável sai do país a 7 cruzeiros o quilo. O existe aí então? “Trabalhos de sapa”, para favorecer alguns em detrimento de milhares.

Deixando de lado a pretensão dos trabalhadores das industrias açucareiras, cumpre ainda fazer uma pequena revelação a respeito: a lista de tais operários dá conta de que (se) existe classe trabalhadora que ainda ganha relativamente bem no Brasil, é essa. Os que menos ganham, percebem 5.200 cruzeiros, pleiteando agora 7.800 cruzeiros mensais. Ha ainda os que ganham 22 mil cruzeiros, que desejam um aumento de mais 15%.

Portanto, os absurdos no terreno déssa questão, são de ordem numérica. Exportamos a 7 cruzeiros, pagando no varejo a 13 e 14, com as probabilidades de novas elevações, ameaças mesmo, em consequência das pretensões da classe, que talves pudessem ser atendidas de outra maneira.

De tudo isso, uma coisa é certa: preparemo-nos para mais escorcha, porque nesta terra onde tudo é desgoverno, onde o próprio Presidente da República vive viajando, nada ha para admirar-se.

Extraído do Correio de Marília de 25 de julho de 1957

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