A “bronca” está “pegando fogo” (7 de agosto de 1957)

Aquí estamos nós, volta e meia, para carrear mais uma acha de lenha, à chama que estamos alimentando, como referência a necessidade irretorquivel que temos, de eleger, no mínimo, um deputado mariliense no próximo pleito eleitoral.

No começo não fomos bem interpretados por alguns. Agora as coisas caminham em outro sentido e pelo que percebemos, estamos sendo melhor compreendidos. Nossa luta, pela sufragação completa de gente de Marília, opõe-se, naturalmente, às pretensões dos políticos profissionais, dos “caçadores de votos” que costumam “girar” pelo interior, em vésperas de eleições, preparando terreno e fazendo “trabalhinhos de sapa”.

A “bronca”, no entanto, está “pegando fogo”. Está se generalizando. Não são poucos os jornais interioranos, que estão já rechaçando as “visitas cordiais” dos politiqueiros contumazes à diversos centros do interior.

Um jornalista linense, Ubirajara Martins, aborda o assunto, declarando que a ordem das coisas agora está invertida. Diz ele: “O “beija mão” agora é no interior. Os “grandes” arvoram-se em “pequenos”, e, humildemente, deixam o conforto do asfalto para entoar lôas nos ouvidos calejados daquele que, até outro dia, éra o “homem do campo”, o “eleitor da roça”, o “sertanejo”, e outros “bichos” mais... Transfigura-se o panorama e para os municípios bandeiam-se, todo domingo ou dia de folga, personalidades ávidas por “estreitar”, cooperação e trabalho comum” com os municípios”...

Se vocês pensarem que isso é suscetível de críticas ou ataques estão enganados... Muito ao contrário, é coisa bôa excelente! E denota, embora tenha sido resolvido um tanto tardiamente, certa inteligencia da parte dos que se esqueciam do interior.

Antigamente – e ninguem desconhece tais fatos – éra um sacrifício obter entrevista com secretario de govêrno ou mesmo diretor de qualquer departamento técnico! Só com cartinha de apresentação, de deputado ou de chefe político muito “graúdo”... Até prefeitos encontravam barreiras em seus designios. Aliás, prefeito que não fosse politiqueiro da mesma côr dos mandatários, não arranjava nem encontro para tratar de assuntos administrativos.

Hoje está mudando, felizmente... vésperas de eleições!...

Até convites recebem os chefes de executivos para acertar isto ou aquilo com um ou outro chefão, lá pela Capital!... E o seu próprio cargo já é credencial suficiente para ingressar num gabinete de secretario!

Mas... a política sempre está de permeio, lógicamente.

A gente do interior, cansada de ouvir proméssas e de nada conseguir, enojada de demagogias e burocracia perniciosa aos interesses coletivos, começou a se fazer de rogada... Principiou a se vender caro!...

Daí a préssa com que os manda-chuvas inventaram viagens, por qualquer motivo, para os “municípios”... Valorizou-se muito essa designação “Município”! Deputados, ávidos pela reeleição, sequiosos de prestígio, advogam com unhas e dentes reuniões “amigáveis” em determinadas cidades, muito amiúde, e procuram arrebanhar o maior número possível de diretores, secretários, etc., para trazer junto, atraindo assim as atenções dos prefeitos e líderes regionais...

Isso é muito bom, repetimos, pois resulta, quasi sempre, em proveito dos interesses interioranos. Conversando amigavelmente sem protocolos, sem hora marcada, prefeitos e secretários, governantes e dirigentes, podem chegar a acôrdos, pódem acertar os relógios, política e administrativamente. E quem ganha, no fim, é o povo!

Vendo e observando, “in locco”, a turma do asfalto “sente” melhor o que até então lhes é solicitado através de ofícios... E capacita-se, melhor ainda para uma solução, que bem pode ser, na maioria das vezes, favorável às reivindicações municipalistas.

Porque, como dizia o velho e sabido Conselheiro Acacio, “um dia é da caça e outro do caçador...” Aquela, porém, está impondo condições, nos dias atuais. É pegar ou largar!...”

Extraído do Correio de Marília de 7 de agosto de 1957

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O jogo do bicho (26 de outubro de 1974)

O Climático Hotel (18 de janeiro de 1957)

“Sete Dedos”, o Evangelizador (8 de agosto de 1958)