Democracia e utopia (1º de agosto de 1957)

Fazem já dois lustros, que iniciamos a luta pela eleição, de, no mínimo, um candidato legitimamente mariliense. Perdemos a contenda no passado, porque, desgraçadamente, boa parte da gente que bate no peito, diz exultar por estas plagas, propaga ufanar-se por amôr à Marília, têm sido falsa e hipócrita.

Não lamentamos não ter nascido aqui, porque isso seria renegar o rincão que nos proporcionou os primeiros clarões do dia, seria ingratidão, covardia; mas gostamos desta terra, aquí vivemos e justo é que por ela lutemos defendendo seus direitos, suas necessidades e suas aspirações. E isto faremos, sejamos mal ou bem interpretados. Desafiando os “patria-amada” que aparecem de vez em quando por aí, dizendo-se amigos de Marília, sem jamais por nós terem feito alguma coisa a não ser recolher votos, injustamente consignados.

Ninguém nos deterá. Os conceitos emitidos nésta coluna, são de absoluta e integral responsabilidade de seu autor. Por isso sentimo-nos à vontade para falar. Falaremos ainda por muito tempo, porque temos muita coisa para externar. E não nos cansaremos tão cedo, podem estar certos, muitas pessoas, muitos falsos marilienses. Nosso “arsenal” tem um estoque inimaginável de munições.

Um amigo verdadeiro, dêstes que não se encontram pelas esquinas e nem “a três por dois”, trouxe-nos o pensamento de certo cidadão, que é visceralmente contrário à luta que estamos empreendendo. Esse máu mariliense, declarou ao nosso amigo, que o que estamos fazendo é uma utopia. E justificou seu pensamento da seguinte fórma: “num regime democrático, não se póde forçar o eleitor a votar em determinado candidato, quando ele é livre em seu modo de pensar e agir, podendo votar em quem bem entender”.

Isso, disse êsse falso mariliense, é utopia. Talvez tenhamos nós, o direito de pensar em utopia, pelos exemplos que tivemos no passado. E não pensamos assim. Pelo contrário, entendemos que ainda é tempo de despertar o sentimento patriótico dos marilienses. Utopia é quiméra, fantasia, sonho, coisa imaginária, irrealizável. Alguma coisa de absurdo. Eleger um mariliense não é utopia, saiba êsse nosso amigo. Essa pessoa, confunde patriotismo com utopia.

Ainda apéla êsse cidadão, para a democracia. O que é democracia? Democracia, segundo pensamos, é a essência da soberania popular, a liberdade de áto eleitoral e o pensamento justo, o govêrno do povo, a liberdade de pensamento e ação, o direito de fazer o que se entende, desde que se respeito o direito do próximo. Isso, sem dúvida é o que estamos fazendo. Não estamos forçando ninguem a votar em marilienses. Estamos alertando o dever democrático dêsse áto. Estamos, dentro dos mais puros ares da democracia, fazendo ver aos verdadeiros marilienses, que democracia é patriotismo e patriotismo é eleger gente nossa, ao invés de consignar votos para “picaretas”, para políticos profissionais, para “doutores promessas”.

Candidato dinheiroso, falso proféta, desatador de promessas, freqüentador de “boites”, estendouro de mentiras deslambidas, morgado de política reumática, homem pleno de escatima, verdadeira ventosa da vergonha, decência e trabalho, não nos interessa.

Eleger gente da terra, não é utopia. Votar em mariliense legitimo, é, antes de mais nada, patriotismo.

Votar em gente de fóra, também não é utopia. É manifestar sentimentos condenáveis de desprezo por Marília e seu povo, é provar interesses mesquinhos de empregos políticos; são outras coisas mais.

Se utopia, conforme disse certa pessoa, é ser bem mariliense, é lutar por um candidato da terra, continuaremos utópicos. E com muito orgulho.

Extraído do Correio de Marília de 1º de agosto de 1957

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