Leite, cachaça, samba e futebol (23 de agosto de 1957)

Primeiramente, nosso país éra conhecido como a “terra do samba”. Hoje o tipo dêsse rítmo que importamos da África, segundo dizem uns, que nós próprios inventamos, segundo afirmam outros, já passou para segundo ou terceiro planos nas preferências musicais dos brasileiros. Agora o que interessa é o bolero, o fox, a guarania, o “swing” e outras coisas importadas tambem. O que “não pegou” foi o tal de “rock and roll”.

Depois da “terra do samba”, passamos a ser o “país do futeból”. Agora já não o somos mais, pois o futebol no Brasil, depois das asneiras de Flávio Costa e das chamadas “marcações por zona” caiu tambem no negativismo, conforme tivemos o dissabor de perceber, através das campanhas intercontinentais e internacionais em que nossos “famosos” selecionados interviram.

Não sendo o Brasil a “terra do samba” e nem o “país do futeból”, teriamos mesmo que ser detentores de um outro “título” qualquer. E este veio tambem. Somos agora o “país da cachaça”, fabricada à larga e vendida tambem “à lá voluntè”, quer seja pura, “puríssima” ou falsificada e impregnada de drogas nocivas à saúde pública. Não que sejamos nós puritanos ou abstêmios; como bons brasileiros, não fugimos tambem à regra de apreciar, comedidamente, aquilo que é quasi sempre alcool e vem rotulado com outros nomes, disfarçado com paladares diferentes.

No Brasil, de modo geral, bebe-se mais cachaça do que leite.

Segundo dados divulgados pelo prof. Veiga Carvalho, da Faculdade de Medicina de São Paulo, na Capital são consumidos, diariamente, cerca de 80 mil litros de aguardente, 2.400.000 mensalmente e 29.200.000 anualmente.

Adiantou aquele professor que cálculos efetuados pelo Instituto de Açucar e Alcool, revelam que se bebe mais aguardente do que leite, em nosso país.

Dividindo-se a quantidade de aguardente consumida na Capital pelos seus milhões de habitantes teremos 0,027 de litro (cerca de uma colher e meia) por pessoa. Consome-se de leite, por sua vez, em nosso vasto território nacional apenas uma colher de chá, consoante dados constantes do “Plano Salte”, divulgados recentemente por um parlamentar estadual.

Se ganha a aguardente no Brasil todo, perde todavia, para o leite, considerando-se apenas a Capital paulista (segundo cálculos do catedrático Hilário Veiga de Carvalho). Isto, porque, o consumo de leite, na Capital, é de cerca de 120 gramas per capita; isto quer dizer, portanto, cerca de oito colheres de sopa (de leite) contra uma colher e meia de pinga. Mas nem por isto os regionalistas precisam ficar tristes, porquanto a aguardente é mesmo intensamente difundida entre nós. Basta dizer que sobrarão 9.720 litros por pessoa, na Capital, dividindo-se o consumo anual pelo número de habitantes.

É cachaça “p’ra xuxú”, não acham?

Extraído do Correio de Marília de 23 de agosto de 1957

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