Os direitos das mulheres (31 de agosto de 1957)

Limos há dias qualquer coisa acerca de um movimento atualmente desencadeado no Rio de Janeiro, por um grupo de mulheres, visando igualar seus direitos aos dos homens e esboçando mesmo uma reforma em determinados artigos do Código Civil.

Pouco ligamos para a notícia, porque achamos alguma coisa de puerilidade na mesma e porque entendemos que no Brasil precisamos de muitos movimentos, movimentos mais úteis, urgentes e necessários em pról do povo. Acabamos de receber uma cartilha com letra de mulher, assinada pelas iniciais M. L. R., com interêsse ferrenho em saber a opinião do cronista a respeito da campanha referida. A letra da missiva, como dissemos, parece ser feminina e o interêsse demonstrado, bem como uma série de perguntas formuladas, também. Não iremos responder a carta propriamente, porque ignoramos quem seja M. L. R. e porque nos foi apresentado um verdadeiro “questionário” para ser respondido. No entanto, vamos aproveitar a idéia que nos foi fornecida, para abordar o assunto, embora, ressalvando antecipadamente o motivo de que não estudamos devidamente a questão. Limos a notícia apenas “por cima”. O mais que sabemos a respeito, nos foi informado através das questões formuladas na carta em apreço.

Não podemos compreender a luta referida, porque se legalmente as mulheres possuem algumas desvantagens frente aos homens, no dizente a direitos, praticamente elas têm, na realidade, direitos, inúmeros além dos homens. No entanto, somos também favoráveis ao ponto de vista. Se as mulheres querem ser iguais em todos os sentidos, inclusive ter o direito de serem candidatas ao posto de Presidente da República, que sejam. Mas que não venham com golpes de desejarem “os mesmos direitos” e interpretarem e executarem êsses “direitos” sòmente nas partes que lhes aprouver. Que tenham de falto os mesmo direitos. Que peguem no cabo da enxada, que sejam açougueiros, soldados da Força Pública e do Exército, marinheiras e engraxates. Que joguem futebol e enfrentem também em luta “vale tudo” o Hélio Gracie ou o Waldemar Santana. Que sejam guarda-noturnas. Que sejam também foguistas e maquinistas, delegadas de polícia, chefes de estação, machadeiras, etc..

É verdade que existem algumas profissões dos homens que as mulheres já executam, mas não tôdas e não “in totum”. Se querem os mesmos direitos, que alcancem e exercam, na realidade os mesmos direitos. E ao lado dos mesmos direitos, que tenham também as mesmas obrigações, ponto que não foi cogitado, ao que parece pelas cabeças do movimento.

Algumas já usam os cabelos cortadas “à lá homem”, usam calças compridas e invadiram as atividades masculinas. Só lhes faltam os bigodes. E como seria gozado u’a mulher barriguda, careca, de bigode e fumando charuto!

Como pode ver a pessoa que nos escreveu e que deixou antever, nas entrelinhas de sua correspondência que seríamos contrários com antecipação ao ponto de vista óra referido, não o somos; somos até favoráveis. Favoráveis em tudo, não em parte.

Extraído do Correio de Marília de 31 de agosto de 1957

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