Um esclarecimento necessario (6 de agosto de 1957)

Nesta coluna, uso sempre o pronome na segunda pessoa. Hoje, entretanto, peço permissão aos leitores, para usá-lo na primeira.

Em 1954, ocupava eu um cargo de locutor na Rádio Clube de Marília, tendo de lá me afastado por conveniência própria, pago e satisfeito. Naquela época apresentava eu um programa matinal, das 7 às 8 horas, sob o título de “Programa da Boa Vizinhança”, em cuja audição diária, uma das secções apresentava músicas sertanejas. Uma dupla caipira (“Pedrinho e Pedrão”), exibia-se diariamente no programa. O sr. Francisco Alves (Pedrão), solicitara-me a confecção de algumas letras, para serem musicadas e apresentadas no aludido programa. Atendi com prazer ao solicitado dêsse homem, que era um assíduo colaborador do programa. Escrevi algumas letras, muitas das quais agradaram e são do conhecimento público, especialmente daquêles que ouviam o mencionado programa.

Há mais de seis meses, o senhor Francisco Alves, convidando-me para testemunha de seu casamento, comunicou-me que estava apresentando-se uma vez por semana no Canal 7 da TV Record e em outras emissôras paulistanas. Disse-me ainda que estava em entendimentos para gravar algumas músicas e pediu minha aquiescência para gravar as de minha autoria, constando o meu nome(.) Aquiescí.

Mais tarde vim a saber, que a dupla “Pedrinho e Pedrão” transformara-se em trio, com a denominação de “Trio Marília” e que iria lançar algumas músicas. Espliquei então a quem me deta a notícia, de que eu tinha algumas letras com a dupla. Fiquei sabendo, por intermédio do informante (sr. Aldo de Almeida), representante comercial da “Mocambo”, que êle havia lembrado o nome do sr. Wilson Mattos, para figurar como autor. Ponderei-lhe que se atentasse para o fato de ser eu autor de algumas letras e que seria injustiça se como compositor figurasse o nome de outra pessoa.

Uma das minhas músicas foi gravada, constando-me que na etiqueta do disco figura o nome do sr. Wilson Mattos, como compositor. Desejei conhecer o disco, para certificar-me da veracidade, tendo o sr. Wilson Mattos recusado-se a exibir-me a citada gravação (que ainda não se encontra à venda na cidade). A recusa deu-me fortes motivos para acreditar na possibilidade de ser de minha autoria a composição e de constar como autor o nome do sr. Wilson Mattos.

Para ter melhor certeza dos fatos e ficar devidamente elucidado, dissipando as dúvidas a respeito, gostaria que o sr. Wilson Mattos me convidasse a comparecer ao seu microfone, no dia e hora em que achar conveniente, para que eu e êle nos entendéssemos democraticamente e em têrmos, publicamente. Isto, porque, não desejo acreditar que o referido senhor seja capaz de concordar com a figuração de seu nome na etiqueta de uma gravação, da qual êle nem indiretamente tenha participado. Ou, se o sr. Wilson Mattos preferir, poderá comparecer ao microfone da Rádio Dirceu, onde trabalho, que, com prazer, ser-lhe-á franqueado para tal. Ainda, se julgar conveniente, terei imenso prazer de franquear ao mesmo as colunas dêste jornal, cujo acôrdo já me foi dado antecipadamente, para seu esclarecimento.

A prova cabal que apresento dessa afirmativa, será a manifestação sincera e leal da própria dupla (“Pedrinho e Pedrão”), que poderá dizer quem foi o autor da música “Cabocla Roceira”: se eu, se o sr. Wilson Mattos, se ela própria ou outra pessoa. Se a dupla disser que não fui eu, calar-me-ei completamente.

Extraído do Correio de Marília de 6 de agosto de 1957

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