“A lei, óra a lei...” (13 de setembro de 1957)

A frase dêste epígrafe foi proferida pelo então Presidente Getúlio Vargas, num de seus discursos dirigidos aos trabalhadores do Brasil.

No começo, pareceu alguma coisa contundente, o ver-se o próprio Governo Federal declarar publicamente a ineficiência do cumprimento da maioria das nossas leis vigentes. A questão, entretanto, deixou de ser observada por um outro ângulo – o da honestidade e do reconhecimento. De fato, as leis no Brasil, via de régra, existem apenas para aumentar o compêndio dos diplomas legais e nem sempre para serem aplicadas. Não por imperfeições, mas sim por menosprezo de muita gente que tem deveres e obrigações na execução e cumprimento das mesmas. Perguntem isso aos ex-combatentes da F.E.B., que, legalmente, possuem “amparo” em Lei; no entanto, todas as vezes que batem às portas dos Governos, para solicitar, não um favor, mas sim o cumprimento de um preceito legal, deixam de ser atendidos. E eles, os “pracinhas”, recebem dos governos e dos políticos, todas as vezes que o ensejo se oferece para um discurso, pomposas referências ao seu heroísmo e cumprimento do dever. Acontece que reconhecimentos verbais e discursos pomposos não dão de comer aos que têm fôme e nem mitigam a dor dos que sofrem hoje as consequências de terem participado ativamente de uma guerra. Parece que só os médicos, os que estudaram biologia e psicologia, estão em condições de avaliar o estado físico daqueles que combateram. Isto, porque, a resistência humana tem um limite e não se poderia mesmo esperar outras consequências para um corpo humano que vivesse um ano em ansiedade e expectativas, aguardando a morte de momento a momento, vendo seus companheiros caírem varados por estilhaços de granadas, impotentes para deter a assenção do sistema nervoso, passando (como o autor déstas linhas), nove meses sem dormir uma noite a fio e sem repousar sob um této, alimentando-se às vezes uma única ocasião por dia, e, muitas outras coisas mais que muitos brasileiros não compreendem ou não querem compreender.

Um regular número de maus brasileiros tem em conta de que os “pracinhas” foram à Itália “passear e ficar ricos”.

Aqueles que convivem com os ex-combatentes da F.E.B devem ter notado que estes não gostam de recordar a sua situação, não gostam de contar as passagens da guerra. Desiludidos, quasi todos chegam a ter vergonha de serem brasileiros!

Leis, hoje, no Brasil, infelizmente em sua maioria, não conseguem impôr aquele respeito sagrado e excelso, de segurança, garantia, direitos e obrigações. Desgraçadamente muitas de nossas leis têm sido desrespeitadas, especialmente por aqueles que são os principais responsáveis pelos seus cumprimentos e execuções – os homens dos govêrnos.

“A lei, óra a lei...”

Extraído do Correio de Marília de 13 de setembro de 1957

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