O problema do desemprego (14 de setembro de 1957)

Ao que parece, jamais o problema do desemprego no Brasil atingiu proporções tão assustadoras como agora. A situação, embóra para muitos despreocupados não represente nada além de uma contingência dos próprios tempos, tende a trazer consequências funestas, caso não sejam tomadas providências urgentes. A verdade está saltando aos olhos de qualquer um e só os que alimentam visões otimistas e conformistas não pretendeu ver a calamidade dos fatos.

No Brasil todo, o número dos desempregados deve andar aí pela casa de mais de um milhão. Os que trabalham, hoje, já quase passam fome. Imaginemos os que não têm emprego e poucas possibilidades de consegui-lo.

Não estamos pintando de preto o já triste quadro da realidade nacional. Apenas focalizando um aspecto da própria vida brasileira, que ninguem, especialmente os homens dos govêrnos, deve continuar ignorando ou protelando. As consequências, se perdurar tal estado de coisas, poderão ser imprevisíveis.

Consta que o Sr. Presidente da República, ordenou um levantamento estatístico em todos os estados da federação, objetivando conhecer oficialmente o número dos desempregados. Perdôe-me o sr. Juscelino Kubtschek, a quase nenhuma fé que se nos apresenta para a solução, pelo menos parcial do problema. Quase estamos antevendo aquele círculo vicioso no setor burocrático, sem resultados plausíveis ou satisfatórios. Muitos funcionários serão designados para tais trabalhos, que durarão fatalmente uma eternidade. Depois de prontos tais estudos, infalivelmente será nomeada uma “comissão de estudos”, para apreciar os resultados e apresentar sugestões.

Isso demandará tempo, excluindo-se ainda as marchas e contra-marchas dos trabalhos da aludida “comissão”, a desinteligência de seus membros, o dedo político, as substituições, etc., etc..

Em São Paulo, uns quarenta mil operários foram lançados na amargura do desemprego. Consta que alguns outros mil trabalhadores tambem deixarão seus afazeres, sendo dispensados de diversas fábricas ou firmas. A inquietação domina todo o mundo paulistano. O receio de que esses milhares de desempregados, sentindo fome póssam transformar-se no futuro, tem a sua razão de ser. As contingências não pódem apresentar prognósticos “cor de rosa”. A situação está muito mais perigosa e sombria do que parece ou do que pretende parecer.

As autoridades responsáveis dos govêrnos devem meditar bem sobre a questão e providenciar o que for possivel, para evitar-se um verdadeiro cáos futuro.

O desespero e a fome originários do desemprego, por certo, não irão ser paciência para aguardar os estudos de comissões, sejam estas as quais forem. Infelizmente, a situação referida é muito mais grave do que parece e se não forem tomadas providências urgentes, poderemos futuramente, registrar fatos verdadeiramente dolorosos para todos os brasileiros.

Oxalá estejamos nós, ao escrever estas linhas, sendo pessimistas em excesso.

Extraído do Correio de Marília de 14 de setembro de 1957

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