Opiniões & Opiniões (3 de setembro de 1957)

Em nosso artigo de sábado, referimo-nos a uma consulta que nos foi endereçada por carta, por um leitor ou leitora que se assinou M. L. R., fizemos um comentário acerca do movimento feminino óra em curso no Rio de Janeiro, visando a igualdade de direitos entre os homens e as mulheres.

Voltamos a receber carta de M. L. R.. Desta vez, u’a missiva “enfezada”, fazendo-nos crer ainda mais que as correspodencias referidas sejam de leitora e não de leitor. M. L. R. protesta veementemente com “as brincadeiras de mau gosto” que emitimos no artigo referido. Acontece que não existiram tais brincadeiras de mau gosto, uma vez que tratamos do caso com seriedade. A cartinha, com um misto de delicadeza e de austeridade, apresenta uma “bronca” de tamanho regular. O missivista (ou missivista), tem lá as suas opiniões a respeito do assunto; nós temos as nossas.

Perguntamo-nos M. L. R. se existe “algum mal” em as mulheres terem direitos iguais, “como nos países mais adiantados do mundo”. Nenhum, achamos. O mal existente é que as mulheres não querem direitos iguais e sim escolher os melhores direitos. Direitos iguais são os de modo geral, cujos exemplos citamos em nosso artigo anterior. E isso não é possível, pelo que pensamos, embora até gostássemos que isso acontecesse. As mulheres de hoje já invadiram uma porção de atividades masculinas. Na guerra, prestaram inestimáveis serviços aos países beligerantes, servindo inclusive como choferes de ônibus e nas fábricas bélicas. Mas aí não se tratou de “direitos” e sim de obrigação patriótica. M. L. R. nos indaga ainda se desconhecemos o sagrado desígnio das mulheres, tornando-se mães. Longe disso: é a maior e a mais sacrossanta função da mulher. Não sabemos se houve alguma intenção nessa pergunta, mas utilizando-nos agora de um direito feminino que dizem por aí ser a malícia, respondemos que jamais um homem teve ou terá a pretensão de ter filhos.

M. L. R. louva a atuação das encabeçadoras do movimento, “essas pioneiras de um acontecimento de grande relevância que transformará por completo a vida dos povos”. Jamais combatemos o movimento, M. L. R.. Veja o nosso artigo anterior com mais cuidado.

A carta traz ainda mais algumas sugestões ou queixas amarguradas, fazendo-nos pedido de que façamos “um exame de consciência antes de atacar uma iniciativa tão nobre e necessária”. Atendemos o apêlo. Fizemos um exame de consciência e achamos que estamos certos. Agora, o retorno do pedido: faça também M. L. R. um exame de consciência.

Para finalizar: Pensamos que as mulheres só deveriam aspirar coisas semelhantes, depois de verdadeiramente capazes de cumprir seu real papel. Hoje nem tôdas as mulheres sabem cumprí-lo. Hoje em dia, nem tôdas as mulheres, mesmo casadas e mães de família, sabem cozinhar, lavar uma camisa branca e engomar bem um colarinho, costurar um vestido ou fazer um pulôver. Isso são obrigações comezinhas. Poderíamos citar outras.

Conhecemos um caso de uma senhora da cidade, que tendo ganho um bebê, declarou aos presentes embasbacados, que iria arrumar um “babá” ou “ama de leite” para alimentar a criança, para não “deformar a plástica”. E essa mesma mulher, ao que estamos informados, é francamente favorável à igualdade de direitos das mulheres e dos homens.

Se os exemplos não servirem, poderemos citar outros.

Extraído do Correio de Marília de 3 de setembro de 1957

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