A candidatura Jango (15 de outubro de 1957)

Enquanto em muitas esferas políticas aguardava-se a ratificação do lançamento do nome de Teixeira Lott à sucessão presidencial, enquanto ainda, muitas facções partidárias esperavam, de certo modo ansiosas, uma definição de Juarez Távora acerta da aceitação de indicação para disputar o Catete, eis que “estoura” na cidade de Araraquara, o lançamento do nome de João Goulart, para suceder ao atual Presidente da República.

O lançamento referido verificou-se através da deputada Ivete Vargas, ocasião em que o Vice-Presidente da República visitou Araraquara, a convite do deputado Leonardo Barbieri, que, deixando o P. S. P., transportou-se com armas e bagagem para o P. T. B.. Vários políticos e próceres petebistas, dentre êles Vicente Bota, ali se encontravam, no momento em que ocorria a cerimônia de inauguração da Agência do SAPS de Araraquara. O fato deu-se em comício público, tendo Jango aceitado praticamente o lançamento de seu nome.

A lançadora oficial em São Paulo, do primeiro candidato à sucessão de J. K., dentre outras coisas, em seu ardoroso discurso, depois de analisar durante longo tempo a personalidade e a vida política do ex-Presidente Vargas, disse que o candidato nato dos getulistas e petebistas é João Goulart, o mais legítimo herdeiro da política social do fundador do trabalhismo e depositário dos ideais que o animavam. Assim – disse –, as massas que seguiam Getúlio têm em Jango o seu candidato ao Catete. Declarou ainda a ora(do)ra que Jango enfeixa em suas mãos o destino do P.T.B. no Brasil, e, se não fôsse ele, o trabalhismo estaria liquidado em nosso país.

O Vice-Presidente da República aceitou de módo tácito a indicação de seu nome, ao afirmar, por todos os modos que realmente não alimenta outros desejos que não os de lutar pelos principios que caracterizavam a ação política de Vargas, tendo concitado aos araraquarenses, que fizessem surgir, dêsse rincão paulista, “a grande bandeira do P. T. B. do futuro”.

De conformidade com a notícia a respeito, percebe-se que apesar do entusiasmo e dos aplausos que tal lançamento provocou entre a multidão, uma grande maioria recebeu com certo ceticismo a referida notícia. O mesmo se póde dizer do lançamento, tambem extemporâneo, do nome de Teixeira Lott, procedido na Bahia.

Tais candidaturas, sem sombra de dúvida, foram recebidas com indisfarçável frieza pública. Sinal evidente de que o povo de nossos dias anda bastante descrente de certos políticos e de muitas coisas que se processam em nosso país, sob o nome de política. A verdade é que nenhuma das duas apregoadas candidaturas conseguiu despertar entusiasmo popular. Talvês seja ainda cedo para esses resultados, mas o que é certo, apesar do curto período de “redemocratização nacional” que usufruimos, tem se notado a cada eleição que passa, maior descrédito pelos pleitos. Isso, sem dúvida é de se lamentar, especialmente quando se procura, por todos os meios e por todas as formas, “educar” o povo, eleitoralmente falando.

Se, no futuro, as outras inevitáveis candidaturas que surgirem, aparecerem com a mesma repercussão déssas duas, ninguem nos convencerá que a campanha de educação eleitoral está surtindo os efeitos desejados; pelo contrário, parece que a consciência e o espírito dos eleitores está andando como caranguejo, isto é, para trás. Ou será...

Extraído do Correio de Marília de 15 de outubro de 1957

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